Em 2014, o Alto Comando do Exército liberou o acesso de Bolsonaro aos quarteis. Enquanto isso, o general Villas Boas proclamava o caráter “legalista” e “apolítico” da corporação.
Em 2015, Mourão declarou que seria preciso "despertar para a luta patriótica" como saída para crise política do país. Foi exonerado por Villas Boas do Comando Sul. Parecia punição. A participação de ambos na campanha de Bolsonaro mostraria que era encenação.
Na campanha eleitoral e no próprio governo, surgem fortes divergências entre Bolsonaro e Mourão ou entre Bolsonaro e militares. Ou, ainda, entre uma “ala ideológica” e uma “ala militar”.
A sequência acima está no livro “O Brasil no espectro de uma guerra híbrida”, de Piero Leirner. Para o autor, todas essas polarizações procuram criar uma “cisão artificial”. O objetivo, diz ele:
...é deixar Bolsonaro numa posição que permita aos militares (com Mourão na posição de “vice”) blindados – e isso foi um movimento tanto na campanha quanto é no governo. Eles têm o bônus e dificilmente ficam com o ônus – inclusive quando os militares que estão no governo tentam se “dissociar” da instituição militar.
Os acontecimentos dos últimos dias parecem desmentir essa hipótese. Mas mesmo que se trate de outra jogada ensaiada, sobram contradições que não cabem nas relações entre a cúpula militar e o gabinete do ódio.
Trata-se do Centrão, mas também dos vários setores do grande capital. Conciliar interesses de atores tão poderosos exige mais do que uma farsa bem montada.
O grande problema é a ausência quase completa de representantes dos interesses dos principais atingidos: os pobres e trabalhadores, que estão morrendo aos milhares diariamente.
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