Doses maiores

17 de março de 2021

A pandemia e o reset capitalista

Em setembro do ano passado, o Financial Times defendeu um “recomeço” para o capitalismo. Para o diário ultraliberal, o “capitalismo de livre iniciativa mostrou uma capacidade notável para se reinventar”. Mas às vezes, “é necessário reformar para preservar. Hoje, o mundo chegou a esse momento. É tempo para um reinício".

Reinício em inglês pode ser “reset”. E foi esse o termo utilizado por Klaus Schwab, fundador e presidente do Fórum Econômico Mundial, em uma reunião realizada em junho de 2020. Entre os participantes, o Príncipe Charles, o secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, a diretora-geral do FMI, Kristalina Georgieva, e executivos da Mastercard e Microsoft.

Schwab defendeu o que chamou de “Great Reset” e apontou como seu gatilho a Covid-19, cujo impacto teria aberto uma “oportuna janela” para centrar as novas tecnologias “do mundo digital, biológico e físico no homem”.

Não demorou para que a extrema-direita surgisse com uma teoria da conspiração nas redes virtuais. Segundo ela, o tal reset nada mais seria que a implantação do comunismo global.

Delírios à parte, o fato é que o capitalismo já sofreu outros “reinícios” e o gatilho de um deles realmente tem a ver com o comunismo. Quando a Revolução Russa abalou o mundo, foi preciso preparar uma resposta rápida.

Há quem diga que essa resposta viria a ser a adoção da economia keynesiana. Mas a teoria de Keynes jamais sairia do papel sem a Segunda Guerra Mundial e esta foi produto da reação fascista ao avanço das lutas dos trabalhadores, evidenciado pelo surgimento da União Soviética.

O capitalismo não precisa de um reset. Precisa de um shutdown.

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