Doses maiores

16 de junho de 2023

Junho de 2013: o ovo de quatro estrelas

Momento definidor da intervenção política das Forças Armadas no caminho da ascensão de Bolsonaro ao poder foi a Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti. Entre 2004 e 2017, o braço militar dessa missão foi comandado pelo Exército brasileiro, que enviou 37,5 mil soldados ao país caribenho.

Em 6 de julho de 2005, as tropas comandadas pelos brasileiros iniciaram o que chamaram de operação de pacificação na Cité Soleil, maior favela de capital haitiana. Cerca de 300 homens fortemente armados invadiram o bairro e assassinaram 63 pessoas, deixando outras 30 feridas. Na época, o comandante da operação era o general Augusto Heleno.

Pacificação. Esse nome também batizaria as intervenções em grandes favelas brasileiras. Consideradas bem-sucedidas durante um tempo, essas operações nunca superaram seu caráter estritamente repressivo, sem maiores preocupações relacionadas à melhora nas condições de saúde, educação, saneamento e empregos nos lugares em que foram implantadas.

Pacificação é o que os governos petistas propuseram, enquanto milhares de pobres e não brancos continuavam a morrer na guerra que o Estado trava contra eles. Este é outro elemento fundamental a permitir que a cobra fascista preparasse seu bote.

Anos depois, Bolsonaro, eleito presidente, nomeou para o Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno; para a Secretaria de Governo, Carlos Alberto dos Santos Cruz; e para Comandante do Exército, Edson Leal Pujol. Todos estiveram no Haiti entre 2007 e 2014.

As informações acima estão no livro “O Fascismo Brasileiro”, de Rudá Ricci. Mostram, novamente, que o ovo da serpente fascista estava sendo incubado nas barbas do governo. Não nas ruas, em junho de 2013.

Leia também: Junho de 2013: o ninho fisiológico

2 comentários:

  1. Serginho, eu já ia comentar na Pílula anterior, sinto que vc está se inclinando a responsabilizar o PT pela incubação do tal ovo da serpente neofascista. Quer dizer, não sei se é você ou o escritor que você concorda, o que dá no mesmo. Aí eu também acho que não. Sabemos e podemos entender que o PT não agiu ou sequer contribuiu para frear os movimentos que existiram das forças armadas de praticamente tomar o poder (tomaram o governo no meu entender) e de conduzir para tudo aquilo que vimos e conhecemos, mas o processo é muito mais complexo. Para ficar só no assunto exposto dessa Pílula. Sabemos e condenamos a ação do Exército Brasileiro no Haiti, mas vincular esse episódio às ações nas favelas e o ascenso (?) da caminha bolsonarista de extrema-direita me parece um pouco forçado demais. Eu acho que a caminhada fascista teve responsabilidade sim do PT e governo, por um lado porque os militares, mídia e burguesia estavam descontentes com os rumos reformistas que esse governo tomava, penso que esse foi o motivo principal, e esse governo deixou sem uma contraofensiva todo esse movimento de extrema-direita.

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    1. Entendo o que você diz e concordo em parte. Até agora, forcei a mão nessa direção, mas vou tentar matizar a abordagem na próxima ou próximas pílulas.

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