Doses maiores

6 de maio de 2019

O risco de nos tornarmos peixes vermelhos

Nos tornamos peixes vermelhos trancados no aquário das nossas telas, sujeitos ao cuidado de nossos alertas e de nossas mensagens instantâneas.

Estas palavras são de Bruno Patino, autor do livro “A Civilização do Peixe Vermelho”. Ainda sem tradução do francês, a obra denuncia a ilusão da utopia digital promovida pelos grandes monopólios das redes virtuais.

À reportagem de Fabienne Schmitt, publicada por “Les Echos”, em 18/04/2019, Patino cita as palavras de um dos fundadores da Web, Tim Berners-Lee:

Ninguém roubou nada, mas houve captura e acumulação. O Facebook, Google, Amazon, com algumas agências, são capazes de controlar, manipular e espionar como nenhum outro antes.

O autor concorda e acrescenta:

Os novos impérios construíram um modelo de servidão voluntária, sem ter consciência disso, sem tê-lo previsto, mas com uma determinação implacável. No coração do reator não há um determinismo tecnológico, mas um projeto econômico que reflete a mutação de um novo capitalismo. No coração do reator está a economia da atenção.

Patino até acha possível encontrar um caminho para sair dessa situação:

Esse caminho possível é a vida em sociedade. Mas não podemos abandonar a essas plataformas o cuidado de se organizarem sozinhas, se quisermos que ela não seja povoada de humanos com um olhar hipnótico que, acorrentados às suas telas, não conseguem mais olhar para cima.

Para encerrar, a reportagem explica a metáfora utilizada pelo escritor:

De acordo com a Associação Francesa do Peixe Vermelho, “ele é feito para viver em bando, entre vinte e trinta anos, e pode chegar a 20 centímetros. O aquário atrofiou a espécie, acelerou a mortalidade e destruiu a sociabilidade...”

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