Doses maiores

29 de fevereiro de 2012

Mais vitórias da ordem social competitiva

Em 11/02, Marcelo Coelho escreveu o seguinte na Folha de S. Paulo:
Enquanto um produto reciclado custar mais do que o antiecológico, o meio ambiente vai sair perdendo.
Em 27/02, no site Envolverde, matéria de Mario Osava denunciou os sérios problemas causados pela construção da central hidrelétrica de Santo Antonio, em Rondônia. Entre eles, mudanças culturais entre os indígenas da região. Um exemplo:
O grupo karitiana, que “vive bem” em sua reserva a 90 quilômetros de Porto Velho, se deu conta de que a Santo Antônio Energia, o consórcio que constrói a central, oferecia compensações a cada aldeia. Diante disso, triplicaram suas aldeias e conseguiram mais caminhonetes do que as previstas inicialmente.
No dia 29/02, o portal UOL publicou matéria do jornal Le Monde assinada por Stéphane Foucart. O título: “Está provado: quanto mais rico se é, menos ética se tem”. Trata-se de um estudo realizado por pesquisadores americanos e canadenses da Universidade da Califórnia, em Berkeley.

Inúmeros testes foram feitos envolvendo o comportamento ético de centenas de pessoas. Os voluntários pertenciam a diferentes classes sociais. Os resultados teriam demonstrado que:
Mesmo levando em conta diversos parâmetros como etnia, sexo, idade, religião, orientação política, não tem jeito, “a classe social mais elevada prevê um comportamento mais antiético”. A que se deve essa ligação entre elevação social e baixeza moral? Em parte, respondem os pesquisadores, “a uma percepção mais favorável da ganância”.
São apenas mais alguns exemplos da eficiência destruidora da competição capitalista. Produtos reciclados jamais custarão menos enquanto o principal objetivo do processo produtivo for a geração de lucros. Os karitiana só estão jogando segundo as regras que lhes foram propostas, ainda que os resultados venham a ser desastrosos para sua cultura. E os mais ricos são aquilo que são: vitoriosos num jogo que costuma ser muito sujo.

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Ajude a economia: divorcie-se
Desastre aéreo e cobiça

28 de fevereiro de 2012

Marx anarquista (2)

Em relação ao debate sobre as posições libertárias de Marx, agradeço ao companheiro Diego Rodrigues a indicação de um texto muito interessante: “Anarquismo e Marxismo”, de Daniel Guérin, escrito em 1973.

Neste artigo, o anarquista francês lembra as complicadas relações entre o revolucionário alemão e lideranças libertárias. É o caso de Bakunin, com quem travou raivosas batalhas. Mas Guérin garante que o anarquista russo foi responsável por afastar Marx de certas posições políticas perigosas. Um exemplo:
Durante os primeiros anos do partido social-democrata na Alemanha, os social-democratas passaram a defender um “Volkstaat” (Estado Popular). Marx e Engels estavam provavelmente tão felizes e confiantes pelo surgimento de um partido de massas alemão inspirado em seu pensamento que demonstraram uma estranha indulgência. Foi necessária a denúncia furiosa e repetida do “Volkstaat” por Bakunin, assim como da aproximação dos social-democratas com os partidos burgueses radicais que Marx e Engels sentiram-se obrigados a condenar tal forma de organização e tal prática.
Outro desafeto de Marx era Proudhon. Marx acusou, por exemplo, o anarquista francês de ser defensor da propriedade privada. Guérin nega e diz que Proudhon “celebrava a pequena propriedade privada na mesma medida em que via nela um grau de liberdade pessoal”. E afirma:
Marx não sabia que, para as grandes indústrias, em outros termos, para o setor capitalista, Proudhon fazia muito corretamente a defesa da propriedade coletiva. Não dizia ele em suas anotações, que a “pequena indústria é uma coisa tão ridícula quanto a pequena cultura”? Para a grande indústria moderna, ele era claramente coletivista.
Sobre este último aspecto, a confusão continua muito grande. É possível dizer que na própria obra de Marx o grande problema não é a propriedade privada em geral. A questão central é o controle dos meios de produção.

O que são as gigantescas sociedades anônimas capitalistas atuais? De um lado, representam a propriedade pulverizada por milhares de acionistas minoritários. De outro lado, seu controle está concentrado nas mãos de alguns poderosos investidores. Nos momentos de crise, o prejuízo é assumido apenas pelos pequenos.

Enquanto a direita nos acusa de cobiçar as posses alheias, os capitalistas se apropriam delas pelo mercado. Por estas e outras, Guérin mostra-se otimista em seu texto quanto a uma possível síntese entre posições marxistas e anarquistas:
um comunismo libertário, fruto de uma tal síntese, experimenta sem dúvida nenhuma os desejos profundos (mesmo se por acaso ele não seja mais, de fato, consciente) dos trabalhadores avançados. Daquilo que chamo hoje em dia de “esquerda operária”, mais avançada que o marxismo autoritário degenerado ou o velho anarquismo ultrapassado e fossilizado.
A profunda crise capitalista que atravessamos atualiza e torna quase obrigatórias tais esperanças.

Leia também: Marx anarquista

Macacos e economistas amestrados

Em 26/02, Carta Maior publicou o artigo “O capitalismo em crise e os meios de superá-la”, de Francisco Louçã. Nele o deputado do Bloco de Esquerda, de Portugal, recomenda que os socialistas se dediquem a estudar o capitalismo real. E um dos modos de fazer isso seria “ler o que a finança escreve sobre si própria”. É o caso de jornais como o Financial Time.

Sem dúvida, uma boa ideia. Esse tipo de publicação costuma ter maior compromisso com a objetividade. Afinal, seu público depende de informações precisas para fazer seus negócios bilionários. Nesse sentido, destaquemos um trecho interessante:

Um artigo do FT, com algum humor, cita um estudo antigo da universidade de Berkeley (existem outros ainda mais sarcásticos), que comparou os resultados de previsões financeiras feitas por macacos que fazem marcas ao acaso num quadro de empresas cotadas na Bolsa, com as sérias previsões feitas por distintos analistas financeiros. Os macacos ganharam.

Ao contrário do que pode parecer, o episódio não é sinal de burrice dos intelectuais empresariais. A atitude amestrada dos financistas causa prejuízos que atingem bilhões de pessoas. No entanto, as empresas para as quais trabalham costumam arrancar enormes lucros de suas operações malucas. O sistema é estúpido, não as pessoas que se beneficiam dele.

O artigo traz algumas afirmações polêmicas. É o caso da ideia de que a expropriação do trabalhador se daria, hoje, na condição de pagador de impostos. Mas há muitos outros elementos interessantes para o debate. Inclusive, porque temos muita gente na esquerda que também vem adotando comportamentos amestrados.

26 de fevereiro de 2012

Subprime e GM de volta!

“Subprime volta a dar bons lucros”, diz reportagem de Serena Ng para o The Wall Street Journal, publicada no Valor de 17/02.

“A crença dos investidores de que o pior já passou no mercado imobiliário dos EUA está reacendendo o interesse nos outrora tóxicos ativos que estiveram no centro da crise financeira”, diz a matéria.

Mas não foi só o subprime que voltou. Em 16/02, a General Motors americana anunciou lucro recorde em 2011. Dois anos após quase ter fechado as portas, a montadora faturou US$ 7,6 bilhões. É o melhor resultado de seus 103 anos de história.

Lembremos que a empresa foi estatizada pelo governo estadunidense. Algo que os neoliberais gostariam de esquecer. De qualquer maneira, não há muito a comemorar. Para chegar a esse resultado, muitas unidades foram fechadas e milhares foram demitidos.

Subprime e GM de volta provam que o sistema permanece funcionando. Continua havendo dinheiro suficiente para novas especulações. A recuperação da grande montadora não mexeu nas elevadas taxas de desemprego americanas. Os maiores favorecidos pertencem à minoria de sempre.

Na verdade, é a famosa volta dos que não foram.

Leia também: O touro de Wall Street não tem apenas chifres

24 de fevereiro de 2012

Eleições gregas atrapalham, diz ministro alemão

Enquanto a crise social aumenta na Grécia, crescem as pressões da União Europeia pelo cancelamento das eleições de abril próximo. É o que relata reportagem de Andrei Netto, publicada em O Estado de S. Paulo, em 17/02. Segundo a matéria:
... o ministro de Finanças alemão, Wolfgang Schaueble, insinuou que as eleições gregas caem na hora errada, quando o país deveria estar concentrado na renegociação da dívida e na implementação dos planos de austeridade. "Devemos nos perguntar: quem vai garantir que após as eleições a Grécia respeitará o que nós decidimos atualmente com o governo grego?", questionou.
Nem passa pela cabeça do governante alemão que acordo nenhum deveria ignorar a vontade popular. Além disso, Schaueble não precisa se preocupar tanto. Nunca ficaram tão claras as limitações da democracia comandada pelo mercado. E não apenas na Grécia.

“Mais de 400 mil espanhóis vão às ruas contra reforma trabalhista”, diz matéria de O Estado de S. Paulo, de 20/02. Os protestos são contra reformas que atacam diretamente os empregos e direitos dos trabalhadores. Acontecem dois meses após a posse de Mariano Rajoy. O novo primeiro-ministro conservador derrotou nas urnas os socialistas, desgastados pela crise econômica que castiga o país.

Na Espanha, como na Grécia, os socialistas governaram sem romper com o essencial do neoliberalismo. Por isso mesmo, seus países estão em crise. Para substituí-los, foram eleitos governos ainda mais submissos aos interesses do mercado. Ou seja, a democracia vem funcionando somente para os ricos e poderosos.

A única alternativa é a radicalização do processo democrático pela ação popular. Eleições nunca são demais. Mas é preciso arrancar a política das garras dos políticos oficiais. Tirá-la dos palácios e gabinetes e trazê-la para as ruas, bairros, escolas e locais de trabalho.

Leia também: Os gregos, cada vez mais putos

23 de fevereiro de 2012

A advogada sob a luz da mídia

"No meu ponto de vista, há dois corresponsáveis por este processo. Alguns membros da imprensa e alguns policiais". Estas palavras teriam sido ditas por Ana Lúcia Assad, advogada de Lindemberg Alves, condenado pela morte de Eloá Pimentel. Esta teria sido uma das teses usadas por ela durante o julgamento de seu cliente.

A hipótese faz sentido. A inabilidade da polícia é conhecida demais. Quanto à imprensa, é só lembrar o espetáculo em que foi transformado o seqüestro que antecedeu a morte da jovem.

O problema com a argumentação da advogada é outro. Aparentemente, ela também procurou tirar vantagem da exposição aos holofotes, flashes e microfones. Ou seja, entrou no jogo tentando usar as armas daqueles que elegeu como adversários.

Não funcionou, mas, pelo menos, ajudou a mostrar como é pesada a presença da grande mídia. O fato é que ela não se limita a registrar os fatos. Ao contrário, na medida em que o faz, interfere em suas conseqüências. Distorce o passado, condiciona presente e futuro. Lembra o chamado "princípio da incerteza", da física quântica.

Em 1927, Werner Heisenberg afirmou que em nível subatômico o próprio ato de observar altera as propriedades do objeto observado. Por outro lado, quanto maior o objeto, menor a incerteza quanto a suas características.

No caso da grande mídia, não é o objeto que é pequeno. Foi ela que se agigantou diante de outros elementos. Sua condição de monopólio compromete a objetividade que afirma ter. A advogada entrou num terreno controlado pela grande mídia. Perdeu-se na ofuscante luz que mistura fatos e versões.

Leia também: A grande mídia e o princípio da incerteza

Muito trabalho no Carnaval

Grande parte da imprensa e do empresariado usa o Carnaval como prova da vagabundice do povo brasileiro. Ao lado da “pesada carga tributária o e excesso de direitos trabalhistas", feriados como este seriam mais um fator de elevação do tal “custo Brasil”.
Em 17/02, reportagem publicada pelo Valor mostrou outro lado da questão. Em “Carnaval do Rio equivale a uma Copa do Mundo”, Paola de Moura cita um estudo de Luiz Carlos Prestes Filho, superintendente da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado do Rio. Em "Cadeia produtiva da economia do Carnaval", ele diz que a cidade deve receber 850 mil turistas, este ano. Multidão que pode gerar R$ 1,2 bilhão.
Para Prestes Filho, o Carnaval deve ser considerado pelo Estado como uma indústria estruturante, principalmente no Rio, onde ele acontece com grande impacto econômico todos os anos. "Se temos a indústria do petróleo - claro que com um peso muito maior - a indústria da moda, temos também a do Carnaval", diz ele.

Como toda indústria esta também tem que contar com trabalhadores. É o trabalho deles, explorado e mal pago, que possibilita receitas tão altas. São milhares de pessoas dando duro nas praias, bares, restaurantes, hotéis, transportes, segurança e na infra-estrutura de escolas de samba, trios elétricos e blocos.

O mesmo vale para outros destinos turísticos. No nordeste, com destaque para a Bahia, a fama de preguiçosos e vagabundos atinge seus trabalhadores ainda mais fortemente. O fato de esses trabalhadores serem obrigados a sorrir o tempo todo não torna seu trabalho menos cansativo. Ao contrário, a gentileza nem sempre é retribuída. Carnaval assim não é diversão pra todo mundo.

Leia também: Máscaras, carnaval, revolução

16 de fevereiro de 2012

Sem tempo até pra matar o tempo

Muitas vezes, nem durante um feriadão, a sensação de dispor de tempo livre é convincente. Aparentemente, trata-se de um fenômeno moderno. É o que diz Olgária Matos, filósofa e professora aposentada da USP. Em entrevista concedida a Thiago Domenici, em 2007, ela fala sobre a noção de tempo:
Vamos supor: como era a sobrevivência na Idade Média? Era, sobretudo, no campo, então você tinha que seguir as estações do ano, as colheitas, a plantação, o tempo de trabalho não se sabe exatamente, mas a média devia ser umas quatro horas por dia, no máximo. Era um tempo qualitativo, porque você seguia aquilo que era da natureza das coisas. Por exemplo, trabalhar antes do nascer do sol ou depois do pôr-do-sol era considerado imoral, era pecado, porque você desafiava a ordem da criação.

Com o advento da luz elétrica, no século 19, o dia passou a ter 24 horas, o trabalho noturno entrou com uma voracidade de consumir todas as forças do homem, até o fim – isso foi o capitalismo do século 19, e está voltando. Antes tinha um tempo na Grécia, em Roma, na Idade Média e nas religiões que era um tempo livre, mas o que era o tempo livre? Era um tempo totalmente autônomo com relação às necessidades materiais da sobrevivência, um tempo que você dedicava à contemplação, por mais indefinida que pra nós seja essa palavra contemplação. Você não se entretinha com nada que dissesse respeito à materialidade da vida, era a liberdade absoluta.

Hoje não temos mais essa idéia de tempo livre, já é preenchido de coisas, então você tem um tempo inteiramente espacializado, não é mais qualitativo, ele não diz respeito a propriedades representativas de um acontecimento, de uma pessoa ou de um desejo. Essa idéia de que você não tem tempo é a forma mais perversa da alienação. Marx já dizia isso, a forma mais perversa não é a alienação do trabalhador com relação ao produto do seu trabalho e ao sentido do trabalho, é a alienação do tempo, você não ser senhor do seu tempo, você é determinado pelo tempo das coisas e não escolhe mais a sua vida.

É o que está acontecendo hoje. Você vê, por exemplo, que um empresário trabalha 24 horas e não pára um segundo – esse empresário na visão de um homem da Idade Média vive pior do que um servo da gleba. São mutações na experiência do tempo e na maneira de vivenciá-lo.
Arranje um tempo e leia a íntegra da entrevista no site http://www.notaderodape.com.br.

Leia também: Férias sem direito a preguiça

15 de fevereiro de 2012

Ajude a economia: divorcie-se

“Recessão e divórcio: expansão nos casamentos fracassados ajuda recuperação econômica”. Este é o título de matéria publicada recentemente no site www.slate.com.

Segundo a reportagem, a crise econômica tornou o custo do divórcio alto demais. Por outro lado, o aumento no número de separações ajudaria a reaquecer a economia. Obrigaria os novos solteiros a duplicar seus gastos com aluguel, alimentação, mobília etc. Sem falar no consumo que implica a busca por novos parceiros.

Seria tosco, se não correspondesse perfeitamente à mais pura lógica capitalista. Por outro lado, desmascara a hipocrisia que envolve a concepção dominante sobre o casamento. Mostra como os laços de família são mantidos muito mais por circunstâncias materiais do que por afeto e paixão.

Na verdade, essa parece ser mais uma regra que uma exceção na história humana. Na Idade Média, por exemplo, os casais formavam-se pressionados pelas necessidades de sobrevivência. Em geral, o camponês escolhia a mulher por sua capacidade de parir e trabalhar. No caso dos aristocratas, a prioridade eram as alianças matrimoniais no interior da mesma família.

A coincidência entre tais conveniências e amor era muito rara. De qualquer jeito, havia poucas dúvidas quanto às motivações pragmáticas da formação das famílias. Coisa que não acontece agora. Daí, o sentimento de culpa e a sensação de fracasso que envolvem as separações de casais.

As crises do atual sistema econômico são devidas a problemas de abundância, não de escassez. Nossos afetos e paixões já não precisariam permanecer prisioneiros de limitações materiais. Esta é mais uma consequência da ordem social competitiva. Verdadeira causa do divórcio entre nossos sentimentos e a vida social.

Leia também: Ordem social destrutiva

14 de fevereiro de 2012

O livro já teve seus dias de facebook

O impacto das novas mídias sobre os processos de conhecimento e informação preocupam pais, professores, estudiosos e militantes sociais. Há muitos sinais negativos vindos das chamadas redes sociais e assemelhados.

Mas é preciso manter certa distância crítica em relação a previsões alarmistas. Um pouco de perspectiva histórica também ajuda. É o que possibilitam alguns trechos do artigo “Desdramatizando a crise da crítica”, de João Cezar de Castro Rocha, publicado em O Globo, em 11/02.

O texto reproduz, por exemplo, as palavras de Giambattista Vico, ditas em 1708:
Sem dúvida, a invenção dos tipos impressos representou uma valiosa ajuda para nossos estudos. Hoje (...) os livros estão disponíveis em grande abundância e variedade. (...) Receio, contudo, que a abundância e o baixo preço terminem por fazer com que fiquemos mais negligentes.
Por quê? O articulista responde citando o filósofo alemão Johann Fichte. Segundo Rocha, em 1807, Fichte:
...respondeu à pergunta, esclarecendo o vínculo entre difusão de textos impressos e negligência do corpo discente. Sua resposta descreve boa parte dos estudantes atuais (apenas substitua-se o livro pelo computador): “(...) os alunos preguiçosos prevalecerão, pois, tanto tendem a descuidar da aprendizagem oral, quanto da formação letrada. De um lado, faltam às aulas, já que o conteúdo das mesmas se encontra nos livros. De outro, negligenciam a leitura porque podem aprender de oitiva”.
E, em 1840, o historiador escocês Thomas Carlyle teria dito:
Com a invenção da Imprensa, todas as universidades sofreram uma transformação. Talvez as universidades tenham mesmo sido superadas! (...) A verdadeira Universidade de nossos dias é uma Biblioteca.
Como resposta a esta ameaça, o autor aponta a solução encontrada pelo filósofo alemão Wilhelm von Humboldt, em 1810:
Ele criou a associação indispensável entre ensino e pesquisa que fundou a universidade moderna. Ora, se além do ensino também se fomenta a pesquisa, produz-se conhecimento novo. Ou seja, que ainda não se encontra em livro algum!
Mal comparando, poderíamos dizer o mesmo em relação às novas mídias. Elas podem ser utilizadas para democratizar a troca de informações e o conhecimento. Ou para aumentar o potencial de nossas mobilizações sociais e políticas.

Mas tal como no caso da pesquisa nas universidades, é preciso muita clareza quanto aos objetivos. A pesquisa acadêmica voltada para os interesses do mercado só reforça a alienação geral da sociedade. O mesmo pode acontecer se as redes virtuais substituírem a experiência da luta e da organização reais.

Leia também: Briga de cachorro grande na internete

13 de fevereiro de 2012

Soldado da PM também apanha

Antes da atual campanha salarial, os soldados da Polícia Militar já estavam na grande mídia. A atuação da PM foi extremamente truculenta nas desocupações da USP e do Pinheirinho, por exemplo. No entanto, esse tipo de ação mereceu aplausos de grande parte da imprensa.

Já na condição de grevistas, os PMs foram tratados como criminosos pela maioria dos jornais. É verdade que é constante o envolvimento de policiais com crimes e corrupção. Mas em tais momentos, a mídia individualiza e separa suas ações da instituição policial.

Para piorar a situação, os policiais são proibidos de organizar sindicatos e fazer greves. E, nesta hora, os PMs apanham de todos os lados. São mal vistos pelos movimentos sociais por seu papel repressor. A população pobre costuma ser a maior vítima da violência policial. Não tem muitas razões para apoiá-los. E seus superiores voltam-se contra eles.

Esta é a condição daqueles que desempenham as funções repressivas do Estado. Quando são exercidas contra lutadores e pobres são consideradas legítimas. Quando são suspensas na luta por direitos, seus agentes são tratados como bandidos.

É preciso construir uma saída para essa armadilha. A ação dos PMs em nome da instituição policial deve ser condenada. Seja na repressão a quem luta, seja na perseguição aos pobres. Mas o respeito a seus direitos deve ser apoiado, a começar pela desmilitarização das polícias.

Quem sabe, assim, conquistemos alguns de seus integrantes para o combate a uma ordem que os utiliza para tornar a sociedade ainda mais injusta.

Leia também: A greve como defesa do serviço público

12 de fevereiro de 2012

Os gregos, cada vez mais putos

O parlamento grego aprovou o pacote imposto por FMI e União Europeia neste domingo. Do lado de fora, nas ruas, pelo menos 100 mil pessoas protestaram contra as medidas.

A revolta pode ser facilmente entendida. “Dois anos de austeridade não reduzem dívida grega” , diz reportagem de Jamil Chade, publicada em O Estado de S. Paulo, em 11/02. O texto diz que a dívida grega subiu de 138%, em 2010, para 159% do PIB no terceiro trimestre de 2011.

Por outro lado, a grande maioria dos gregos estão amargando:
...20% de desemprego, um terço da população já abaixo do nível da pobreza, uma contração da economia que chegará ao fim deste ano a 16% e, ao contrário do que se esperava, uma elevação da proporção da dívida em relação ao Produto Interno Bruto (PIB).
O pacote aprovado só deve agravar essa situação. É por isso que, por algumas horas, houve violento confronto entre manifestantes e a polícia em Atenas. Mas a situação está tão grave que até os policiais andam enfurecidos.

O sindicato dos policiais da Grécia está defendendo a prisão dos auditores da União Europeia, FMI e Banco Central Europeu. Acusam as entidades de “terem destruído a coesão social da Grécia por meio das duras medidas de austeridade fiscal exigidas em troca do socorro financeiro ao país”, segundo notícia de O Estado de S. Paulo, de 11/02.

A prisão até faria sentido. Mas deveria incluir os governantes de plantão. Já são quatro anos de recessão. Mesmo assim, o pacote aprovado inclui redução de salários e aposentadorias, dispensa de 15 mil funcionários públicos e regras mais flexíveis para demissões.

É ou não é pra ficar ainda mais puto!

Leia também: Porque os gregos estão tão putos

9 de fevereiro de 2012

Racismos cruzados

O filme “Histórias cruzadas” merece ser visto. Ele mostra as relações entre empregadas negras e suas patroas brancas, no sul dos Estados Unidos na década de 1960. O racismo escancarado e legalizado torna a vida das domésticas um inferno de exploração e humilhação.

Mas o perigo é a produção tornar o racismo brasileiro mais tolerável. Se aqui ele ganhou formas dissimuladas, não deixa de ser cruel. Principalmente, para quem o sofre. São experiências quase diárias envolvendo sinais de que há uma cor de pele que é tanto mais errada quanto menos clara.

As leis segregacionistas dos estados sulistas americanos acabaram em 1964, graças a muita luta. Uma causa que contou com grande apoio entre os habitantes do norte do país. Mas quando o movimento negro quis ampliar sua luta para o norte, encontraram outro obstáculo. Era a desigualdade econômica entre negros e brancos. Aí, o apoio entre os brancos influentes sumiu. Eles diziam que, nesse caso, valia a competência e a vontade de vencer.

Ou seja, o capitalismo precisava funcionar a todo vapor. Quem pudesse, que acompanhasse, mesmo com 300 anos de escravidão nas costas. Argumentos semelhantes aos utilizados por aqueles que negam o racismo brasileiro. Que consideram a situação muito pior de nossa população negra como um problema de origem exclusivamente econômica.

Eis porque não faz o menor sentido enxergar positivamente a “moderação” do racismo brasileiro. Ou achar que perseguição racial explícita é mais fácil de combater. Os racistas sabem combinar as diversas formas de discriminação de cor para mantê-la viva. Todo racismo é odioso e merece a mesma determinação na luta por seu fim.

Leia também:
EUA: a sangrenta alternativa civilizada
Os vários racismos

8 de fevereiro de 2012

Dilma, ainda mais à direita

A mais recente proeza do governo Dilma foi a privatização dos aeroportos. Os 300% pagos a mais em relação à oferta inicial são um péssimo sinal. Mostram que o preço estava subfaturado e que os consórcios vencedores sabem que o negócio será ótimo. Tanto quanto foram as privatizações tucanas, que encareceram tarifas e pioraram serviços. E, tal como antes, tudo à custa de dinheiro público. O BNDES entrou com 60% dos R$ 24,5 bilhões negociados.

Deve ser por isso que a economista Elena Landau declarou aos jornais ontem:
Quando o governo Dilma inaugura um processo claro de privatização, sem eufemismo, sem semântica, com a simbologia de bater o martelo, mostra que inicia uma fase diferente, em que podemos ter bom-senso na discussão.
Landau é ex-diretora do BNDES e ficou conhecida no governo FHC como a "musa das privatizações".

Outro a elogiar o desempenho do governo petista foi Roberto Setubal, principal executivo do Itaú. “Gosto de tudo o que tenho visto” disse ele ao jornal O Estado de S. Paulo, em 29/01.

Na Câmara Federal, o governo fez aprovar a criação de empresa para gerir hospitais universitários. Proposta que não passa de nova privatização. Dessa vez, em área ainda mais importante para os interesses populares.

“Reforma agrária registra pior ano desde 95”, diz reportagem de João Carlos Magalhães, publicada pela Folha de S.Paulo em 05/02. E cita dados do próprio Incra: menos de 22 mil famílias de sem-terra foram assentadas no primeiro ano do governo Dilma.

Ao mesmo tempo, o governo federal quer desengavetar no Congresso projeto de lei sobre o direito de greve de servidores públicos. Na verdade, uma proposta que tenta inviabilizar as paralisações no setor.

A elevada popularidade da presidenta só mostra que o lulismo continua funcionando. Preservando os interesses dos ricos, enquanto distribui migalhas aos pobres.

Leia também:
Dilma, cada vez mais à direita
Privatização de aeroportos e cheque voador

7 de fevereiro de 2012

Marx anarquista

Há muitas forças de esquerda e de direita que acusam Marx de autoritarismo. De defender um Estado forte, socialismo de cima para baixo, ditadura política etc. Isso pode até ser verdade para algumas correntes marxistas. Dificilmente corresponde ao que pensava o revolucionário alemão.

Há na internete um longo artigo escrito por Maximilien Rubel e Janover Louis que demonstra isso. Escrito em 1977, o texto chama-se “Marx anarquista”. Os autores não deixam de criticar certos posicionamentos de Marx. No entanto, também destacam vários trechos de seus escritos que confirmam sua má vontade em relação ao Estado. É o caso da seguinte passagem sobre a Comuna de Paris:
A Comuna não foi uma revolução contra esta ou aquela forma de poder do Estado: monarquista, constitucional, republicana ou imperial. A Comuna foi uma revolução contra o Estado como tal. Contra esse aborto sobrenatural da sociedade. Foi uma ressurreição para o povo. A ressurreição de sua própria vida social. Não foi uma revolução que visava transferir o poder estatal de uma fração da classe dominante para outro, mas uma revolução para quebrar essa máquina terrível de dominação de classe. Não foi um daqueles confrontos menores entre as formas executiva e legislativa do poder de classe, mas uma revolta contra a combinação dessas duas formas apenas para se tornarem uma extensão enganosa do poder executivo.
Em outro trecho, Marx diz que:
...o proletariado não pode, assim como a classe dominante e suas várias frações rivais, simplesmente tomar posse do Estado existente e fazê-lo funcionar para seus próprios objetivos. A primeira condição para manter um poder político transformador é destruir este mecanismo enquanto instrumento de dominação de classe.
E acrescenta, em relação à classe trabalhadora: “O instrumento político de sua submissão não pode se tonar um instrumento político de sua emancipação”.

O texto de Rubel e Louis merece ser lido e debatido por quem acredita no socialismo como um projeto libertário, construído de baixo para cima. É só procurar “Marx anarquista” na internete. Pena que parece haver apenas versões em espanhol e francês.

Leia também: A rede mundial dos tempos de Marx

6 de fevereiro de 2012

Neoliberalismo adoece, a esquerda agoniza

“Crise agrava queda de sindicatos nos EUA" é o título de matéria publicada por Alex Ribeiro no Valor de 06/02. A matéria se refere a leis aprovadas em vários estados americanos que dificultam a vida dos sindicatos. Também diz que:
Demissões em massa feitas por Estados e governos locais e limites aos diretos de greve de funcionários públicos começam a minar o que é hoje a base mais forte dos sindicatos americanos.
As organizações sindicais têm reagido com promessas de se comportar e ajudar na resolução de uma crise que foi causada unicamente pelos patrões. Com isso mostram que a maior vítima da recessão que vem atingindo a economia mundial não tem sido o neoliberalismo.

É o que disse, por exemplo, Ignacio Ramonet durante debate feito no Fórum Social Temático 2012. Conforme relato de Katarina Peixoto publicado por Carta Maior em 26/01, o jornalista espanhol afirmou que é falsa a ideia de que a crise que explodiu em 2008 tenha marcado o fim do ciclo neoliberal. Desde então:
...os Estados se endividaram para bancar os mercados e lançaram políticas de empregos subvencionados. E, em 3 anos, os mercados se recompuseram e se voltaram de novo contra os Estados. Nas atuais reuniões de cúpulas já não se fala mais do regresso do Estado, na necessidade de políticas neokeynesianas e os mercados voltam a se impor sobre os Estados.
Ainda segundo Ramonet:
No caso da Grécia e da Itália, o mercado impôs membros para os governos. Um fenômeno de golpe de estado financeiro. E não houve nenhuma reação da esquerda do governo. Só reação da população, nas ruas. Por um lado, a consequência é o avanço da extrema direita (antissemita, racista), que está no governo da Grécia e, por outra parte, um afastamento da política por parte da sociedade, que passa a rechaçar a política. Do Chile a Israel, passando pelos EUA, Londres e em muitos lugares na América Latina. Ou seja, temos uma crise em que o único que está se portando bem é o neoliberalismo, enquanto a política, a democracia e a sociedade estão padecendo de uma crise da qual não sabemos como sair.
Corretíssimo. Mas é importante lembrar que essa crise deve-se a uma aposta errada feita por grande parte da esquerda. Trata-se da ocupação prioritária e quase exclusiva de posições no aparelho do Estado e do fortalecimento burocrático das organizações populares e sindicais.

Não à toa, as respostas que vêm abalando os poderosos são as que surgiram no ar livre das ruas e praças. Ou a esquerda adota este caminho, ou vai se asfixiar no ar refrigerado dos gabinetes e palácios.

Leia também: A militância mofando nos gabinetes

5 de fevereiro de 2012

Briga de cachorro grande na internete

A edição de 27/01 de CartaCapital traz bom material sobre as recentes tentativas de limitar o acesso à internete. São dois projetos em debate no Congresso dos Estados Unidos: o Stop Online Piracy Act (SOPA) e o Protect IP Act (PIPA). Eles pretendem tratar como criminosos sem direito a defesa quem compartilhar arquivos considerados propriedade intelectual. Principalmente filmes, músicas e videogames.

Em excelente artigo, Antonio Luiz M. C. Costa diz que a verdadeira batalha nessa questão está sendo travada “entre Hollywood e o Vale do Silício”. E explica:
No primeiro time contam-se as associações de produtoras, gravadoras e tevês a cabo e associações de artistas, cineastas, atores e técnicos, além da Câmara de Comércio dos EUA e a central sindical AFL-CIO. No segundo, empresas como Google, Yahoo, Mozilla, Facebook, eBay, American Express, Reddit, Foursquare, Twitter, a fundação Wikipedia, associações de ativistas digitais e organizações de defesa de direitos civis, incluindo a Repórteres sem Fronteiras e a Human Rights Watch. De ambos os lados há democratas e republicanos, conservadores e liberais, esquerda e direita.
A edição ainda alerta para a versão brasileira dos projetos em debate nos Estados Unidos. Trata-se de projeto de lei do deputado Eduardo Azeredo (PSDB-MG). É o criador do esquema do mensalão colocando seu mandato a serviço das grandes empresas de entretenimento.

Ao mesmo tempo, os dois maiores monopólios da atenção dos internautas lutam para aumentar seus lucros. O Facebook entrou pesado na bolsa de valores. E o Google responde com a integração de todos os seus sistemas de busca.

É a velha lógica capitalista de concentração econômica e guerra entre monopólios. Em outros momentos as maiores vítimas desse combate foram os explorados. Agora, não deve ser diferente. E entre os alvos está a liberdade de trocar informações.

Nessa briga de cachorro grande, podem ser eliminados os tímidos e valiosos espaços que o movimento social conseguiu conquistar na rede mundial.

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2 de fevereiro de 2012

Anonymous, zumbis e coveiros

Em 31/01, o coletivo Anonymous iniciou ataques a sites de instituições bancárias brasileiras. Os principais alvos foram Bradesco, Itaú, Banco do Brasil e Santander. Não teria havido roubo de dados de clientes. Apenas dificuldades para acessar os sites bancários.

A intenção do coletivo seria chamar a atenção para “a corrupção e a podridão da política nacional”. Mas dificilmente ações desse tipo serão capazes de mobilizar a população. De qualquer maneira, o episódio revela contradições interessantes.

Uma das formas utilizadas nos ataques aos sites dos bancos é o uso de “máquinas zumbis”. Ou seja, os “hackers” instalam vírus em milhares de máquinas conectadas à internete. Em certo dia e hora ordenam que as máquinas infectadas acessem os sites bancários de uma vez só.

Em dezembro de 2010, o Anonymous promoveu ataques desse tipo a empresas de cartão de crédito. Era uma represália ao boicote das financiadoras ao site Wikileak. Na época, Jonathan Wood, analista da empresa Global Risks, disse o seguinte: “O gênio saiu da garrafa e pode ser muito difícil colocá-lo nela novamente”.

Mas quem foi que prendeu o tal gênio? Resposta: o próprio sistema capitalista. Afinal, foi ele que criou essa grande rede. Amarrou a criatividade cibernética a um emaranhado global a serviço da transação de valores. Despertou a cobiça ou a ira dos hackers. E forneceu a eles até seus robôs-zumbis.

Os hackers não são os coveiros do capitalismo de que falava Marx. Só poderão sê-lo juntando-se à luta dos explorados. Mas suas ações não deixam de revelar mais uma contradição causada pelo próprio funcionamento do sistema.

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1 de fevereiro de 2012

Capitalismo é desemprego

“Desemprego está no pior nível, diz a OIT” é o título de reportagem de Jamil Chade para O Estado de S. Paulo publicada em 24/01:
Dados divulgados pela Organização Internacional do Trabalho apontam que a crise do desemprego é a pior já registrada e a economia mundial terá de criar 600 milhões de postos de trabalho até 2020 para inserir os que hoje estão desempregados e ainda incorporar milhões de jovens que entrarão no mercado produtivo.
Segundo a matéria, desde o início da crise econômica já são 197 milhões de desempregados no mundo todo. Sendo que metade deles:
... está nos países ricos e a taxa média mundial de desemprego passou de 5,5% para 6,2%. Na América Latina, 3 milhões de pessoas foram demitidas nos dois primeiros anos da crise, fazendo a taxa subir de 7,0% para 7,7%. Em 2010 e 2011, porém, o índice caiu para 7,2%.
Diante disso, poderíamos concluir que o mundo está de ponta cabeça. As “nações avançadas” passando por problemas que antes só atingiam os “países atrasados”. Não é bem assim. É o que explica Slavoj Zizek em “A Revolta da Burguesia Assalariada”. O texto foi publicado na London Review of Books, e reproduzido pelo sítio Viomundo, em 22/01. Nele, o filósofo esloveno afirma que:
É o próprio sucesso do capitalismo (maior eficiência, aumento de produtividade, etc.) que produz desemprego, tornando mais e mais trabalhadores inúteis: o que deveria ser uma bênção – menor necessidade de trabalho pesado – se torna uma maldição.
Desemprego é resultado de mais capitalismo, não de menos. Maior produtividade é, basicamente, mais produção a partir da exploração de menos trabalhadores. Isso poderia ser combatido com a redução da jornada de trabalho sem redução salarial.

Se a jornada caísse pela metade, por exemplo, o número de empregos poderia dobrar. Aliviaria a vida da grande maioria, mas mexeria nas taxas de lucros da minoria que controla os meios de produção. Mas, aí, já não seria capitalismo.

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