Doses maiores

7 de junho de 2023

Inteligência artificial e alienação social

Não é verdade que o que distingue o ser humano dos outros animais é o uso das ferramentas. Mas elas certamente desempenham um papel fundamental, funcionando como extensões e aperfeiçoamentos dos atributos de nossa espécie.

É o martelo imitando o punho, a faca potencializando os dentes, a lança ampliando o alcance dos braços ou as rodas aumentando a velocidade de nossos deslocamentos. O advento das máquinas-ferramenta tornou possível ultrapassar muito nossas capacidades naturais.

Em meados do século passado, surgiu o computador, que tenta mimetizar o cérebro. Seria apenas uma tentativa frustrada, se a alienação da sociedade capitalista não tivesse conseguido rebaixar nossa inteligência até nos tornar dependentes da burrice cibernética.

Mas como sempre dá pra piorar, surgiu a inteligência artificial. Já é possível, por exemplo, definir alguns parâmetros e deixar que algoritmos autodidatas façam o trabalho de multidões de tarefeiros intelectuais. Quase todos condenados ao desemprego, evidentemente.

Outro risco muito provável é deixar essa novíssima ferramenta decidir o que é verdadeiro ou não. Com o agravante de que para os algoritmos a verdade é aquilo que se encaixa nos padrões mais conservadores e preconceituosos da vida social. Além disso, há a possibilidade de que as campanhas eleitorais se transformem em uma disputa entre poucas e poderosas máquinas cibernéticas de marketing político. O vitorioso seria o proprietário do aplicativo mais eficiente.

Claro que nada disso seria possível, se um dos principais fundamentos da sociedade capitalista não fosse a separação entre trabalhadores e meios de produção, incluindo suas ferramentas. Separação que se manifesta como alienação política, ao manter a democracia fora do alcance da grande maioria.

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2 comentários:

  1. Eu sou da época do cérebro eletrônico, acho que teve o mesmo impacto que a inteligência artificial. O medo constante da máquina substituir o homem, incentivado pelo terror anunciado em filmes e livros como se o homem fosse descartado, ou que tomasse cuidado porque poderia não se precisar mais dele, portanto, tratem de ficar quietos, é esse o recado que nos chega da ideologia dominante. No passado conseguimos separar o cérebro eletrônico do nosso, agora uma nova investida.

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