Doses maiores

6 de junho de 2017

Aprendendo com Lênin a aprender com os camponeses

Mujique é o nome que se dá aos camponeses russos. Um termo que costuma ser entendido como sinônimo de grosseria, ignorância e conservadorismo. Uma imagem alimentada também por grande parte da tradição marxista ortodoxa.

Mas não era assim que pensava Lênin. Segundo a biografia do revolucionário russo escrita por Tony Cliff, o líder bolchevique considerava importante aprender com os mujiques. Cliff cita, por exemplo, algumas palavras dele em relação ao discurso de um camponês monarquista em uma sessão parlamentar:

Ele começa seu discurso repetindo as palavras do Tzar sobre "os direitos sagrados da propriedade" (...). Também deseja que “Deus conceda saúde ao Imperador". Mas termina dizendo: "Vossa Majestade disse que deve haver justiça e ordem. Mas se eu tenho um pedaço de terra e meu vizinho possui 10 mil vezes mais terra do que eu, onde está a ordem e a justiça?"

É a estas contradições que os revolucionários devem estar atentos. São elas que levavam Lênin a dizer que no peito de um rude camponês pode bater um coração revolucionário.

A principal força dirigente do vasto campesinato russo eram os socialistas revolucionários, não os bolcheviques. Mas o partido jamais rejeitou esse setor dos explorados como “gente atrasada”. Uma atitude que se mostrou acertada, pois sem o apoio dos mujiques o processo revolucionário russo jamais seria vitorioso.

Apesar disso, muitos dos que se dizem leninistas só sabem tratar com arrogância vastos setores da população explorada simplesmente porque não dominam a “teoria revolucionária”. Preferem limitar sua militância a uma vanguarda tão esclarecida quanto inofensiva. Tão pequena quanto são inúteis suas vaidades acadêmicas e limitados seus horizontes políticos. 

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