Doses maiores

30 de junho de 2023

O labirinto da internete e seus minotauros

“O Infinito num Junco” é um ótimo livro de Irene Vallejo. Conta a história dos livros e os primeiros deles de que se tem registro eram feitos de papiro, um junco vegetal que nascia nas margens do Nilo, no Egito Antigo.

Em certo momento, Irene cita um conto de Jorge Luis Borges chamado “A Biblioteca de Babel”. Nele, diz a autora, existe uma biblioteca que conta com um catálogo verdadeiro, mas muitos milhares de catálogos falsos. Seus frequentadores dominam apenas um par de línguas e seu tempo de vida é breve. Portanto, as probabilidades de que alguém localize na imensidão do acervo o livro que procura, ou simplesmente um livro compreensível para si, são muito pequenas.

Desse modo, afirma ela, ninguém consegue ler realmente. Entre a esgotante abundância de páginas ao acaso, extingue-se o prazer da leitura. Todas as energias se consomem na procura e na decifração.

Aos leitores de hoje, afirma nossa autora, a biblioteca de Babel fascina como uma alegoria profética do mundo virtual, do excesso da internete. Dessa gigante rede de informações e textos, filtrada pelos algoritmos dos motores de pesquisa, onde nos perdemos como fantasmas num labirinto.

Timothy John Berners-Lee, cientista que idealizou a Web, inspirou-se no espaço ordenado e ágil das bibliotecas públicas, lembra Irene. Cada documento virtual tem um endereço único que pode ser alcançado de outro computador. A internete é uma emanação das bibliotecas, diz ela.

Berners-Lee viria a lamentar que sua inovação tivesse se transformado nesse emaranhado de caminhos sem saída. Mas é pior que isso. Tais labirintos passaram a abrigar criaturas mais terríveis que o mitológico Minotauro.

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9 comentários:

  1. "O Livro de Areia" é uma coleção de contos escrita pelo renomado autor argentino Jorge Luis Borges. O livro, publicado pela primeira vez em 1975, é composto por narrativas breves e enigmáticas, caracterizadas por temas metafísicos, paradoxos e reflexões sobre a natureza da realidade.

    O conto que dá nome ao livro, "O Livro de Areia", conta a história de um homem que adquire um livro muito peculiar de um vendedor ambulante. Esse livro é único, pois suas páginas são infinitas e não têm números sequenciais. Além disso, cada página do livro é tão fina quanto um fio de areia e contém textos aleatórios e fragmentados. O homem fica obcecado com o livro, pois percebe que ele nunca poderá terminar de lê-lo, pois sempre haverá mais páginas para virar. Ele decide se livrar do livro, mas descobre que é impossível se desfazer dele, e acaba se perdendo em sua imensidão.

    Outro conto notável é "A Outra Morte", onde Borges explora a ideia da existência de múltiplas versões de uma pessoa em universos paralelos. O protagonista encontra um homem idêntico a ele mesmo, que afirma ser uma versão de si que conseguiu escapar da morte. No entanto, o homem descobre que essa versão alternativa está condenada a morrer em seu lugar, e ele próprio está fadado a sofrer o mesmo destino em um ciclo interminável.

    Em "A Rosa de Paracelso", Borges aborda a busca pela perfeição e a obsessão humana pelo conhecimento absoluto. O protagonista, um alquimista, está determinado a criar a rosa perfeita. Ele alcança seu objetivo, mas descobre que a rosa é tão perfeita que não pode existir, pois transcende a realidade material. O conto explora a natureza efêmera da perfeição e a impossibilidade de alcançar um ideal absoluto.

    Esses são apenas alguns exemplos dos contos presentes em "O Livro de Areia". Ao longo da obra, Borges convida os leitores a questionarem a natureza da existência, a relação entre o infinito e o finito, e a própria noção de realidade. O estilo literário de Borges é caracterizado por sua erudição, escrita concisa e profunda, que desafia as convenções narrativas tradicionais e convida o leitor a explorar o labirinto das ideias e das possibilidades.

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  2. Advinha quem resumiu pra mim? Estou supondo que os belos textos do Sergio possuem a mesma origem. :)

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    1. Obrigado. O texto que você postou é muito bom, mas não conheço. De quem é?

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  3. Foi escrito por intelectual poderoso que assina com o singelo pseudônimo de ChatgPT...

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    1. Ah, agora entendi. Rsss. Podia tentar ver se ele começa a me ajudar. Mas curto mesmo é a dificuldade pra acabar o texto ou até achar um mote pra um. E como não tem grana envolvida, não sinto a tentação de apressar o processo.

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  4. FRANCISCO NASCIMENTO3 de julho de 2023 às 09:43

    Bom dia, Sérgio. Que pílula deliciosa e necessária... Um ótimo ponto de partida para uma grande reflexão. E o que dizer desta bela passagem sobre a Internet e seus usuários: "Dessa gigante rede de informações e textos, filtrada pelos algoritmos dos motores de pesquisa, onde nos perdemos como fantasmas num labirinto" ? Parabéns!

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    1. Muito obrigado pelo apoio, Francisco. Mas o mérito é todo da autora. Abraço!

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  5. Pois é, tomei contato desse livro através das suas Pérolas, já o tenho e não comecei a ler, mas começo hoje. Fantástica a fábula que o Borges criou com esse conto, futurista alguns diriam, pois é, gênios anteveem o que está por vir, porque o que está por vir está escrito no agora visto.

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  6. "... gênios anteveem o que está por vir, porque o que está por vir está escrito no agora visto". Gostei! Parece frase do Wisnik...

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