Doses maiores

31 de julho de 2012

Olimpíadas e machismo

Pela primeira vez na história das Olimpíadas, as mulheres competem em todas as modalidades. Outro fato inédito: todas as delegações enviaram competidoras. Mas o criador da versão moderna dos Jogos, Pierre de Coubertin, considerava a participação feminina algo "impraticável, desinteressante, antiestético e incorreto".

O machismo entre os membros do Comitê Olímpico internacional só não é maior que seu racismo. Na década de 50, por exemplo, tentaram impedir que mulheres negras participassem em provas de pista e campo. Segundo alguns dos membros do colegiado, elas pareciam hermafroditas.

A participação das mulheres nas Olimpíadas representa um desafio à autoridade masculina. Sua força, resistência e recusa a se dobrar aos padrões de beleza dominantes incomodam o machismo.

Basta olhar o caso de Caster Semenya, campeã mundial nos 800 metros em 2009. Ela teve que suportar todo tipo de acusações porque não se encaixa no que é considerado normal para um esportista do sexo feminino.

Essa divisão rígida entre os gêneros é algo que os Jogos Olímpicos acabam desafiando. Tudo indica que haverá cada vez mais atletas transexuais. A ideia de que meninos jogam num lugar e meninas em outro não é algo inerente à natureza humana. É uma imposição social.

Claro que sempre haverá tipos diferentes de atletas, mas nada obriga que o critério tenha que ser o de gênero. Por que não considerar a força, o peso, a agilidade? A divisão com base no sexo é arbitrária. E é mais uma forma de nos dividir e nos faz sentir diferentes uns das outros.


Leia também: Olimpíadas, racismo e direitos humanos

30 de julho de 2012

Crise pode igualar PT e PSDB de vez

As últimas previsões para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro estão em torno de 1,9%. Se se confirmarem, os dois primeiros anos do governo Dilma terão um PIB parecido com o dos dois governos tucanos.

Os motivos disso? O cenário externo. Tanto para tucanos quanto para petistas. No caso de FHC, o país cresceu média um pouco acima de 3% de 95 a 97. Despencou para zero em 1998. Por quê? Principalmente, por causa da crise do sudeste asiático de 1997.

O primeiro ano do segundo mandato tucano foi marcado pela crise russa: crescimento econômico de 0,3%. Em 2000, aconteceu a recessão argentina. A média do tucano ficou em 2%.

Lula encerrou seu primeiro ano com o PIB a 1,2%. Mas o petista logo mostrou a que veio. Com Palocci mantendo os rumos neoliberais da economia, vieram os 5,7% de crescimento em 2004. Enquanto a economia mundial cresceu forte, seu governo manteve a média de 4% de expansão econômica.

A quebradeira geral de 2008 gerou a “marolinha” que fez a economia desabar para 0,3%. Em 2010, a recuperação mundial foi garantida com muito dinheiro público nos Estados Unidos e na Europa. Aqui, os 7,5% de crescimento trouxeram alívio e elegeram Dilma.

Agora, outra “marolinha” promete mais estragos. A verdade é que os mesmos fatores que afetaram os governos tucanos estão presentes nos governos petistas. A exposição às armadilhas neoliberais da economia mundial é a mesma. E os que pagam as contas pela variação dos humores da globalização também.
 
Não há blindagem econômica. Há submissão.

27 de julho de 2012

Olimpíadas, racismo e direitos humanos

A cena mais bonita da história das Olimpíadas aconteceu no México em 1968. Os atletas negros americanos Tommie Smith e John Carlos fizeram a saudação do “Black Power” quando receberam suas medalhas. Dave Zirin conta alguns detalhes.

Os dois corredores pertenciam ao Projeto Olímpico para os Direitos Humanos (OPHR). O movimento queria a exclusão da África do Sul e da Rodésia das Olimpíadas. Mas havia outras exigências. Se não fossem atendidas, haveria um boicote aos Jogos.

As duas repúblicas africanas racistas ficaram de fora das Olimpíadas. Mas as outras exigências não foram atendidas. Mesmo assim, o boicote não aconteceu. Smith e Carlos ficaram num impasse: deixariam de ir ou tentariam representar o movimento?

Só havia um jeito: chegar ao pódio para fazer seu protesto. Eles conseguiram. No momento da premiação, usavam as luvas dos “Panteras Negras” e estavam descalços contra a pobreza. Também usaram broches do OPHR e um colar de contas para denunciar os constantes linchamentos de negros em seu país.

O gesto também protestava contra o Massacre de Tlatelolco, em que centenas de estudantes e trabalhadores mexicanos foram mortos pouco antes dos Jogos. O outro ocupante do pódio era o australiano Peter Norman. Ele também usava o broche do OPHR.

Smith, Carlos e o branco Norman sofreram perseguições por muitos anos. Mas mostraram o verdadeiro espírito olímpico. Respeito ao esporte, competição leal, princípios humanitários, solidariedade, dignidade e coragem.


Olimpíadas e nazismo marchando juntos

As Olimpíadas modernas foram criadas em 1896 por Pierre de Coubertin, um aristocrata francês. Não é por acaso que elas surgem junto com o imperialismo. Essas coisas andam lado a lado.

Era a celebração dos Estados se colocando acima do esporte. Naquela época, um bando de duques e príncipes, assustados com a possibilidade de uma revolução mundial, comemoravam a disputa de uma nação contra outra e a divisão do mundo entre si.

Mas um momento importante de mudança aconteceu em 1936. Os Jogos aconteceram na Alemanha de Hitler. Antes disso, as Olimpíadas eram apenas um momento em que as pessoas se reuniam para praticar esportes.

Hitler e seu departamento de propaganda levaram o evento um nível totalmente novo. A corrida da tocha olímpica, por exemplo, foi criada por Joseph Goebbels. A ideia de fazer os atletas marcharem como se fossem um exército, também. Era a glorificação do nazismo. Uma espécie de nacionalismo vitaminado por esteroides.

Assim, o nazismo e os Jogos Olímpicos caminharam de mãos dadas. Tudo isso acontece antes da Segunda Guerra. Terminado o conflito, as Olimpíadas voltam a ser organizadas, mas foram mantidos todos aqueles traços dos jogos nazistas.

Foi nesses mesmos jogos que o americano Jesse Owens venceu a prova de corrida atlética. A vitória de um negro em plena Alemanha dominada pelo racismo foi memorável. Mas Roosevelt, presidente dos Estados Unidos na época, jamais o cumprimentou pelo feito.

Não é preciso ser nazista para ser racista.

As informações são de Dave Zirin, em sua entrevista para a “International Socialist Journey”.

Leia também: Olimpíadas: o Cavalo de Troia neoliberal

26 de julho de 2012

O Globo usa Marx para defender seu monopólio

Há muito tempo, a grande mídia passou a agir com mais sutileza. Aprendeu a juntar a mentira e a omissão a formas de torcer distorcer fatos e situações. Algo muito mais eficiente, como prova um recente caso do jornal O Globo.

Em 24/07, o jornalão carioca publicou matéria intitulada “Um arqui-inimigo da censura”. Nela, Flávio Henrique Lino cita Marx para defender a liberdade de imprensa. Um dos trechos utilizados faz parte da defesa do revolucionário alemão em processo contra seu jornal, a Nova Gazeta Renana, em 1849:

A função da imprensa é ser o cão de guarda público, o denunciador incansável dos dirigentes, o olho onipresente, a boca onipresente do espírito do povo que guarda com ciúme sua liberdade.

Nada contra o texto citado. E o artigo acerta ao afirmar que Marx, talvez, jamais aprovasse o autoritarismo das “ditaduras comunistas” do século 20. Também está correto ao dizer que Lênin defendia o controle da imprensa pelo governo. O problema é que nada disso tem a ver com o que faz e defende o Globo e o resto da grande mídia.

A imprensa a que Marx se referia fazia circular informações e opiniões. Estava longe de ser dominada pelas grandes corporações atuais. O que o Globo faz é monopolizar o comércio de informações. É impor o ponto de vista que interessa apenas aos ricos e poderosos. Sua atividade precisaria ser regulada pelo código do consumidor e pelas juntas comerciais.

Nada a ver com imprensa ou com Marx. Tudo a ver com empresa e tapeação.

25 de julho de 2012

Crise capitalista: quem é o trouxa?

Quer aprender a jogar pôquer? Primeira lição: ao sentar na mesa, olhe para os outros jogadores. A coisa mais importante a fazer é identificar o trouxa.

Pausa na lição para as mais recentes notícias econômicas:

David Gardner publicou artigo no Financial Times cujo título é “Com instituições enfraquecidas, Espanha pode repetir Grécia”. Ou seja, a quebra do país é quase certa. Se ela virá ou não, ainda não se sabe. Só sabemos quem é que já está pagando a conta.

Os funcionários públicos espanhóis acabam de perder o direito a receber o 13º salário. Em 2010, eles já tiveram seus salários reduzidos de 5% a 15%. E no final de 2011, a jornada semanal aumentou de 35 para 37,5 horas sem correção salarial. Os 100 bilhões de euros recebidos pelo país estão nos cofres dos banqueiros.

No Brasil, o governo federal vem concedendo generosas isenções ao setor automotivo. O objetivo seria manter a produção e, quem sabe, criar empregos. Pois bem, a edição de Carta Capital desta semana revelou: para cada real que deixou de ser recolhido como imposto, as montadoras enviaram 3,3 reais ao estrangeiro.

A GM faz parte do setor automotivo. Não está criando empregos. Ao contrário, acaba de suspender sua produção em São José dos Campos. A previsão é de demissão de até 2 mil funcionários.

Voltando à aula de pôquer. Segunda lição: olhou bem para seus parceiros de jogo? Analisou, avaliou e não descobriu quem é o trouxa? Então, o trouxa é você. Ou melhor, somos nós. Ou viramos a mesa ou seremos depenados.

Leia também:

24 de julho de 2012

Olimpíadas: o Cavalo de Troia neoliberal

Mais trechos da entrevista de Dave Zirin para a revista inglesa “International Socialist Journey”:

Toda Olimpíada usa o discurso do “legado” para justificar gastos governamentais tão elevados em um único evento. O fato é que as despesas são públicas e os lucros privados. Algo que as pessoas simplesmente não aceitariam se isso não viesse disfarçado como revitalização e melhoria urbanas.

Há uma grande mitologia sobre a capacidade das Olimpíadas em transformar uma sede olímpica em metrópole mundial. Eles vendem a ideia de que estão transformando sua cidade em uma espécie de Meca internacional. Dizem que os Jogos são bons para o turismo, mas há estudos que mostram que muita gente evita ir para as cidades que sediam Olimpíadas.

Os Jogos causam grandes deslocamentos, uma repressão policial incrível e uma conta enorme pra pagar quando a festa acabar. São como um Cavalo de Troia neoliberal, que arrasta multidões atrás deles. Alguns chamam isso de "capitalismo de celebração", feito para festejar os excessos e a ganância. Mas no final sobram grandes dificuldades financeiras.

A explosão da dívida depois dos Jogos de Atenas em 2004 é um dos aspectos menos abordados da atual crise na Grécia. O orçamento ficou cerca de 1.000% acima do previsto! Os custos dos Jogos de 2012 já aumentaram de £ 2,4 bilhões para £ 11 bilhões e não tenho dúvida de que o número final será muito maior.

Pouco depois desta entrevista, foi divulgado um estudo da Universidade de Oxford mostrando que os Jogos Olímpicos de Londres serão os mais caros da história. Pelo menos até que o presente de grego chegue por aqui.


23 de julho de 2012

Dilma faz, os patrões aplaudem

Claudia Safatle publicou o artigo “A segunda ‘virada’ do governo Dilma” no jornal Valor, em 20/07. O texto diz que a presidenta considera a redução na taxa de juros a “primeira grande ‘virada’ do seu governo”. Medida que não afetou em nada os 323% de juros anuais cobrados pelo cartão de crédito, por exemplo.

A segunda dessas “viradas” virá em agosto, diz o artigo. E será baseada em uma “reunião com um grupo de grandes empresários privados” realizada em março. Os patrões fizeram várias reclamações. Entre elas, “o pesado custo da energia, a apreciação demasiada da taxa de câmbio, os onerosos encargos trabalhistas, a péssima infraestrutura...”.

Diante das queixas, a presidenta teria dito “vamos fazer o que tem que ser feito”. É a tal "segunda virada" de Dilma. Segundo o artigo:

...um pacote de medidas com a redução do preço da energia para o setor produtivo, as concessões de ferrovias, portos, rodovias e aeroportos, a renovação das concessões de energia e a simplificação do PIS/Cofins, entre outras medidas.

Nada sobre reajustes salariais ou redução de preços. Ou alguém acha que os empresários compensariam a redução nos impostos, diminuindo os preços de seus produtos? Quanto a saúde, educação, habitação, reforma agrária, o silêncio de sempre. Ou fala pela boca de Guido Mantega.

O ministro da Fazenda participava de um seminário da Fiesp. Soube da aprovação pela Câmara Federal do Plano Nacional de Educação. A proposta prevê investimento de 10% do Produto Interno Bruto em educação, no prazo de dez anos. Mantega não se conteve: “Isso vai quebrar o Estado brasileiro”. Os patrões devem ter aplaudido.

20 de julho de 2012

Arte, a prostituta solteirona

Certa vez, Erwin Panofsky, crítico e historiador de arte alemão, afirmou:

Embora seja verdadeiro que a arte comercial esteja sempre em perigo de terminar como uma prostituta, é igualmente verdadeiro que a arte não comercial corre sempre o risco de terminar como uma solteirona.

A afirmação não faria sentido antes do século 19. Até essa época, não havia como a arte ser comercial ou não. Ela não tinha autonomia suficiente para escolher entre rodar a bolsinha ou passar as noites na solidão. Estava a serviço da religião e da aristocracia.

A arte como atividade independente é recente e burguesa. Como tal, nos deu muitas obras maravilhosas. Mas autonomia não é o mesmo que liberdade. Aos poucos, a criação estética foi se subordinando às leis do mercado.

Em 2004, a obra "A Impossibilidade Física da Morte na Mente de Alguém Vivo” foi comprada por 12 milhões. Ela é de Damien Hirst e consiste num tubarão de 5 metros de comprimento mergulhado em um tanque de formol.

Qual é o significado dessa obra? Só pode ser o mesmo que vale para muitas outras coisas na vida moderna. É boa porque custa caro e não o contrário. Para os bilhões de pessoas distantes desse tipo de atividade mercantil, não tem a menor importância.

O capitalismo está conseguindo transformar a prostituta numa solteirona. Vale muito dinheiro para alguns poucos. Mas nem estes, nem ninguém mais quer saber dela. O livre mercado libertou a atividade artística de suas antigas amarras. Agora, precisamos livrá-la das prisões econômicas do mercado.

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Carta ao século 16: imagens vazias

19 de julho de 2012

O domínio da teologia da mercadoria

O último censo do IBGE mostrou que o catolicismo continua sendo a religião da maioria, mas perdeu quase 1,7 milhão de adeptos desde 2000.

Em 17/06, o sociólogo Antônio Flávio Pierucci afirmou em artigo para a Folha que “os agentes da religião não passam de agentes econômicos, e as igrejas, de empresas”. Situação para a qual as denominações evangélicas estariam melhor preparadas. Principalmente, as neopentecostais.

Em 06/07, José Eustáquio Diniz Alves publicou “A vitória da teologia da prosperidade” na Folha. Ele afirma que no lugar da católica “opção preferencial pelos pobres”, impera a doutrina de Joãozinho Trinta: "Pobre gosta é de luxo". Tal situação revelaria um “Brasil cada vez mais desencantado".

O conceito de desencantamento do mundo é de Max Weber. Costuma ser interpretado como o crescente domínio da racionalidade capitalista na vida moderna. Mas há quem diga que isso não implica menos religiosidade. É o caso de Renarde Freire Nobre, professor da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG.

No texto “Weber e o desencantamento do mundo: uma interlocução com o pensamento de Nietzsche”, Nobre lembra que Weber chamava de desencantamento ao predomínio de religiões éticas. Ou seja, aquelas que recomendam a adoção de certos comportamentos a seus fiéis no lugar de rituais mágicos com objetivos práticos e imediatos.

Se Pierucci e Diniz estão certos, as religiões que mais avançam são exatamente as que retomam o caráter mágico que o catolicismo e o protestantismo tradicionais repudiam. De qualquer maneira, parece que estamos diante o fortalecimento da mais poderosa das superstições. É a teologia da mercadoria.

18 de julho de 2012

Olimpíadas: nada a ver com esportes

“Nas mãos do Comitê Olimpíco Internacional, os Jogos Olímpicos têm tanto a ver com esportes, como a Guerra do Iraque com democracia”. Estas palavras são de Dave Zirin em entrevista para Gareth Edwards, publicada na revista inglesa “International Socialist Journey”.

Zirin é um dos mais conhecidos marxistas a escrever sobre esportes na atualidade. Ele oferece várias informações importantes sobre os Jogos. Para quem não lê inglês ou tem pouco tempo para fazê-lo, vamos destacar alguns trechos nesta e em futuras doses.

Há vários eventos que ficaram esquecidos, soterrados pela mídia e pelo consumismo que vem envolvendo o evento há muitas décadas. Por exemplo, o massacre de centenas de estudantes na cidade do México durante os Jogos de 1968. Quase ninguém fala disso.

Naquela mesma Olimpíada, aconteceu o ato corajoso de Tommie Smith e John Carlos. Ao receberem medalhas na prova dos 200m de atletismo, os dois atletas negros ergueram um braço com o punho fechado. Era a saudação dos “Panteras Negras” americanos. Foram duramente punidos por isso.

John Carlos também é autor de uma frase que diz muito sobre o verdadeiro espírito olímpico moderno. “Sabe por que os Jogos acontecem a cada quatro anos? É o tempo que eles demoram para contar todo aquele dinheiro”, disse ele.

Zirin também conta sobre certas tradições fascistas presentes nas Olimpíadas. Por exemplo, a entrada dos atletas marchando na abertura foi introduzida pelos nazistas, em 1936. Era a militarização dos Jogos. Está aí até hoje.

Mas estas e outras informações virão com mais detalhes, em breve. Aguardem ou acessem a íntegra da matéria, em inglês, aqui.

Leia também: A democracia corintiana e a nobreza dos meios

17 de julho de 2012

As greves nos manuais da grande mídia

Há mais de dois meses, os trabalhadores das universidades federais estão em greve. A grande mídia quase não falou dela. O silêncio fazia coro com a indiferença governamental.

Em 13/07, o governo apresentou proposta. Os jornais anunciaram com estardalhaço. Da recusa em negociar, surgiram mágicos 45% de correção salarial. Alguns detalhes mereceram pouco destaque.

Feitas as contas, descobre-se que aquele índice representa reajuste negativo ou nulo para a grande maioria dos professores. Além disso, aos funcionários administrativos nada foi oferecido.

É assim que a grande imprensa vem tratando as greves há muito tempo. Para a alegria de governos e patrões. Talvez, fosse bom rever os manuais de redação. Sugestão para um verbete:

Greve: movimento paredista de caráter trabalhista. Deve ser noticiada com moderação. Os leitores devem ser poupados de detalhes como os motivos da paralisação e suas reivindicações. Mas é importante ressaltar que os maiores prejudicados são os usuários e/ou consumidores do setor afetado.

As propostas feitas pelo empregador devem ser noticiadas o mais genericamente possível. Índices de reajuste salarial devem ser apresentados em números redondos. Sem detalhes quanto ao verdadeiro impacto de sua aplicação. Do contrário, poderia ficar clara a eventual insignificância da proposta e a notícia perderia relevância.

Nota: os grevistas têm utilizado o expediente de bloquear ruas e avenidas para chamar a atenção da população. É importante que nos limitemos a informar sobre as regiões afetadas sem dar maiores detalhes quanto a reivindicações e causas do movimento. A prioridade é mostrar os transtornos causados aos motoristas.

Correções como esta tornaria os fatos mais fiéis à notícia, já que o contrário foi descartado.

Leia também: Arrocho salarial e lavagem cerebral

16 de julho de 2012

Hércules já não é somente grego

Rafael Poch publicou artigo no Diário de Berlim, em 11/07. O título é “Já somos todos gregos” e diz: “Agora que nos impõem as mesmas medidas, podemos entender, o que passam e sentem os gregos, de quem tentamos nos diferenciar de forma tão lamentável”.

Poch refere-se às medidas que castigam os trabalhadores espanhóis, maiores prejudicados pela crise provocada por seus patrões. Cortes de salários e de direitos que atingem desde funcionários públicos e aposentados a mineiros.

No artigo “O imperialismo e a economia política mundial hoje”, Alex Callinicos cita Gramsci:

Quando podemos imaginar que a contradição chegará a seu nó górdio, um momento normalmente insolúvel que requer a intervenção de Alexandre e sua espada? Quando toda a economia mundial se tornar capitalista e chegar a certo nível de desenvolvimento, isto é, quando a “fronteira móvel” da economia capitalista mundial chegar aos pilares de Hércules.

Na Antiguidade, pilares de Hércules era o nome que se dava ao estreito de Gibraltar. Era onde acabava o mundo conhecido: Europa, África e Ásia. A “fronteira móvel” é a vocação do capitalismo pare envolver todo o planeta. Algo que ainda não havia acontecido na época de Gramsci.

Está acontecendo agora. Difícil encontrar um canto do planeta que não esteja sob domínio das leis do mercado. Algum ponto que não apareça na rota da crise capitalista atual. E as maiores vítimas serão aqueles que sempre viveram da venda de sua força de trabalho.

Hércules não é mais somente grego. Em breve, nos sentiremos espanhóis. E se a espada de Alexandre continuar nas mãos dos poderosos já sabemos sobre quem ela vai desabar.

12 de julho de 2012

Demóstenes sempre foi ficha limpa

Há pouco que comemorar na cassação de Demóstenes Torres. É certo que o caso é raro. Em quase 200 anos, é o segundo senador a sofrer a punição. Mas tal raridade certamente não se deve à honestidade reinante entre os senadores. Basta lembrarmos que o atual presidente da Casa é ninguém mais que José Sarney.

O fato é que Demóstenes abusou da confiança de seus colegas. Posou de paladino da moralidade, acusou, apontou o dedo para vários deles e se fez campeão da “ficha limpa”. Esqueceu de combinar com o restante dos gatunos que o rodeavam. O resultado é a injustiça que lhe fizeram.

Injustiça, sim. A grande mídia sempre lhe reconheceu os serviços prestados. Afinal, em dezembro de 2009, a revista Época colocou o senador goiano entre os 100 brasileiros mais influentes. Texto de Demétrio Magnoli elogiava a disposição de Demóstenes no combate às “cotas raciais”. Causa que o senador defendeu usando argumentos racistas.

Foi considerado um dos senadores mais produtivos da Casa. Apresentou mais de mil projetos. Entre eles, a redução da maioridade penal para 16 anos em casos de crimes hediondos. Para tristeza dos conservadores, não obteve sucesso.

O senador apareceu várias vezes na lista de "Cabeças do Congresso", do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar. O site “Congresso em Foco” o colocou em oitavo lugar entre os melhores parlamentares de 2011.

Demóstenes não pagou por sua amizade com Cachoeira. Foram as inimizades que cultivou em uma casa feita para governar para poucos que o condenaram. Sua ficha junto aos ricos e poderosos sempre foi mais do que limpa. 

Conselhos do companheiro Delfim Netto

Em agosto de 1977, o Dieese revelou uma falsificação dos índices de inflação relativos a 1973. Os salários deixaram de ser corrigidos em 34%. A notícia ajudou a detonar a greve dos metalúrgicos de São Paulo de 1978.

Depois, vieram as greves do ABC e as revoltas estudantis e populares contra a ditadura. Surgiram PT, CUT e um dos maiores movimentos de resistência popular da história do País. Sua grande liderança era o metalúrgico Luís Inácio da Silva.

O responsável pela falsificação foi Delfim Netto, Ministro da Fazenda na época. Em 1968, ele participou da reunião que aprovou a decretação do Ato Institucional no 5 (AI-5). Ao votar, declarou ao presidente Costa e Silva:

... estou plenamente de acordo com a proposição que está sendo analisada no Conselho. E, se Vossa Excelência me permitisse, direi mesmo que creio que ela não é suficiente.

O AI-5 deu à ditadura de 1964 poderes absolutos e inaugurou um período de intolerância e terror contra qualquer tipo de oposição. E tudo isso para Delfim não era “suficiente”.

20 anos depois, Lula foi eleito presidente. Delfim tornou-se um de seus conselheiros. Em 23/08/2010, Lula declarou:

Um povo politizado, como o de São Paulo, deixou de eleger um Delfim Netto e elegeu outras pessoas, quem sabe tão merecedoras de voto como ele, mas bem menos competentes para ser parlamentares como ele (O Estado de São Paulo).

Agora, Delfim diz que os sindicatos deveriam parar de exigir reposições salariais. E conta com “companheiro enturmado” Gilberto Carvalho para convencê-los disso. Desde 1977, muita coisa mudou. E não foi Delfim.

11 de julho de 2012

Novo surto da crise à vista

Wolfgang Münchau, é editor do Financial Times e especialista em União Europeia. Em relação a esta última, publicou um artigo, ontem, cujo título é “Solução da crise nem em 20 anos”.

O Valor Econômico anuncia que o desemprego nos Estados Unidos está em 8%. Maior que a taxa média de 5,4% das sete décadas pós a Recessão de 1929. Estes números vêm derrubando as bolsas mundiais nos últimos dias.

Por aqui, a Bolsa desabou 3%, ontem, por outras razões. A baixa foi puxada pela queda das ações da Vale e Petrobras. É o reflexo de números ruins na economia chinesa. A dependência brasileira em relação ao gigante asiático já começa a nos custar caro.

Francois Chesnais publicou a primeira parte do artigo “A luta de classes na Europa e as raízes da crise econômica mundial”. O texto é muito bom e está disponível no site da Carta Maior. O marxista francês afirma que “não há nenhum ‘fim da crise’ à vista”.

A economia mundial está mais integrada do que nunca, dizem todos. E de seus três principais polos, Estados Unidos e Europa descem ladeira abaixo. O polo chinês não dá sinais muito animadores.

A verdade é que as contradições econômicas que levaram à crise de 2008 continuaram se acumulando. Houve seguidas transferências de verbas públicas aos bancos. É como oferecer bebida gratuita a um alcoólatra, com a condição de que largue o vício.

As nuvens pretejam nos céus mundiais. Não foi por falta de aviso. Alguns deles foram reunidos em pílulas anteriores. Veja, abaixo:

10 de julho de 2012

Psicologia de massas e capitalismo

A crise capitalista deixa os neonazistas cada vez mais à vontade. Demonstram suas crenças racistas, homofóbicas, machistas, autoritárias e truculentas à luz do dia.

Um traço muito comum dessas manifestações é seu caráter coletivo. Pessoas apenas conservadoras podem se transformar em monstros de intolerância quando formam bandos ou multidões. O fascismo é bem mais perigoso quando conquista milhões.

É por isso que o marxista alemão Wilhelm Reich escreveu seu famoso livro “Psicologia de massas e fascismo”. A obra foi lançada em 1932, pouco antes de Hitler chegar ao poder. Reich queria saber por que o nazismo atraía grandes parcelas da classe trabalhadora. 

Explicações que buscassem causas apenas racionais eram insuficientes. O próprio Hitler sabia disso. Em seu livro, “Mein Kampf”, ele diz que os pensamentos e ações do povo “são determinados muito mais pela emoção e sentimento do que pelo raciocínio”.

Por isso, Reich buscou unir as obras de Marx e Freud. Era preciso levar em conta o inconsciente, o irracional, a repressão sexual. Seus estudos fornecem pistas importantes. Mas parecem muito presos aos esquemas explicativos da psicanálise.

Oitenta anos depois, o desafio permanece. Além de Freud e Marx, muitos outros pensadores e teóricos podem ajudar a enfrentá-lo. Gramsci e Foucault, por exemplo.

De qualquer modo, Reich formula corretamente o problema. Não se trata apenas do fascismo. Como ele diz, é preciso “saber por que razão os homens suportam desde há séculos a exploração e humilhação moral, em resumo, a escravidão”.

A massificação dessa “servidão voluntária” é um dos segredos da dominação capitalista. É desse estrume que o fascismo surge e se fortalece.

9 de julho de 2012

Errar é sempre humano

Dois grandes acidentes voltaram a ganhar destaque nos jornais. Um deles, a queda do voo 447 da Air France, em 2009. O outro, o desastre nuclear de Fukushima no Japão, em 2011.

Recentes relatórios sobre as duas catástrofes falam em erros humanos. No avião, a tripulação não teria sabido lidar com a pane de um equipamento. No caso da usina, o maior problema seria a falta de políticas governamentais de prevenção.

Há interesses poderosos em jogo. No caso francês, indenizações às famílias, a indústria aeronáutica e o mercado turístico. No japonês, culpar pessoas pode justificar a continuidade do uso da energia nuclear. Os terremotos e tsunamis não seriam o maior problema. Os bilhões investidos naquela tecnologia estariam salvos.

As eventuais falhas podem estar relacionadas a vários aspectos: treinamento, projeto, procedimentos, legislação, governos, sistemas, indivíduos, equipes. Podem ser resultado de fatores próximos ou não do local e do momento dos acidentes. Mas jamais deixam de ser eventos que resultam de nossas ações e escolhas.

A natureza não se engana. Nós é que costumamos estar na hora e lugar errados. Quanto às falhas divinas, costumam ficar acima do bem e do mal. Assim, se há erro, só pode ser humano. Nos casos acima, há muitos. Mas o maior deles é comum a estas e a muitas outras calamidades contemporâneas.

Em algum momento da história recente de nossa espécie erramos feio. Com o capitalismo, passamos a medir tudo por seu valor em dinheiro. Perdas humanas tornaram-se meros detalhes em disputas em torno de somas bilionárias. É muito humano. E é estúpido, também.

Leia também: Apostando no mercado de catástrofes

6 de julho de 2012

Arrocho salarial e lavagem cerebral

Arrocho salarial é o nome das perdas econômicas dos trabalhadores em relação à inflação. Em geral, quem ganha com ele são os patrões. Os privados e os públicos. O conceito foi desaparecendo a partir de 1994.

Nesse ano, começou a ser implantado o Plano Real. A inflação diminuiu bastante. Na realidade, os preços foram congelados pelo pico e os salários pelo piso. Mas o alívio geral tornou quase proibido falar em correção salarial.

Era o fim das correções automáticas de preços. Será? Não é o que diz Maria Lucia Fattorelli, em boletim da Auditoria Cidadã da Dívida, de 03/07:

... a partir de 1995, enquanto os salários dos trabalhadores ficaram congelados, a atualização da dívida pública tem sido feita de forma automática, mensalmente, e por índices calculados por instituição privada (Fundação Getúlio Vargas) que tiveram variação muito superior ao índice oficial de inflação do país (IPCA)

Os capitalistas passaram a lucrar menos com a inflação. É muito mais negócio, agora, investir em títulos da dívida pública. Pagam os mais altos juros do mundo e retiram renda da maioria da sociedade sem que ela note. Maria Lúcia dá um exemplo:

Enquanto o governo e a imprensa fazem um verdadeiro terrorismo diante da hipótese de gastar R$ 279,8 bilhões em 2012 com toda a folha de trabalhadores de todos os órgãos federais ativos, aposentados e pensionistas, nada se fala do gasto com a dívida pública, superior a R$ 2,1 bilhões POR DIA!

Lavagem cerebral é outro conceito que quase ninguém usa mais. Exatamente porque já funciona com perfeição.

Leia também: Quando mídia golpista e petistas se entendem

5 de julho de 2012

A OCDE gosta de nossa desigualdade

Angel Gurría é secretário-geral da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A entidade reúne os países ricos. Em 18/06, ele concedeu entrevista ao Valor, prevendo que o “crescimento será fraco por cinco a dez anos”. Referia-se ao desempenho econômico de Europa, Japão e Estados Unidos.

Diante disso, Gurría deposita esperanças na América Latina. Nessa região, diz ele, “aprendemos com nossos erros, fortalecemos as finanças públicas, saneamos os bancos, implementamos várias reformas estruturais para reforçar as bases do crescimento”.

O entrevistado afirma que o Brasil “está muito bem preparado para se integrar à OCDE”. Mas, ao discutir o problema da desigualdade social, ele cita um estudo recente da organização de que faz parte:

...a relação entre a renda média dos 10% mais ricos e dos 10% mais pobres passou de 7 para 9 vezes em 25 anos, na média dos países da OCDE. Nos EUA, a diferença é de 14 vezes. No México e no Chile, é de 25 vezes. Entre os Brics, somente o Brasil conseguiu reduzir substancialmente a desigualdade, mas a diferença de renda entre ricos e pobres ainda é de 50 para 1, de longe mais desigual do que em qualquer país desenvolvido.

Diante disso, Gurría recomenda “mudanças estruturais”. Em especial, reformas no mercado de trabalho. Sabemos o que elas costumam significar: menos direitos sociais e trabalhistas, salários menores, repressão à organização sindical etc. Mais do mesmo veneno.

Já se vê para que a OCDE precisa de nós. Quer dividir os prejuízos de sua crise. Nada melhor que fazer isso onde a desigualdade é “mais desigual do que em qualquer país desenvolvido”. O perigo é nos animarmos com a oferta da elite mundial de países. Alguém duvida?

4 de julho de 2012

Democracia e redução da jornada de trabalho

Os jornais chamam a atenção para o aumento no número de vereadores a disputarem as próximas eleições. São 5.070 novas vagas criadas devido à aprovação de uma emenda constitucional em 2008.

O protesto é geral. Para que desperdiçar verbas públicas com mais mordomias? Por que criar novas oportunidades para corrupção e mau uso do dinheiro do povo? A indignação tem todo sentido. A política institucional cheira pior a cada dia.

Mais importante é perguntar por que o sistema funciona assim. Os eleitores não fiscalizam seus eleitos, dizem alguns. Outros falam do “déficit democrático”. Os representantes já não conseguem representar os interesses de seus representados.

A primeira resposta é simplória, a segunda é pomposa. O problema de fundo é a divisão social do trabalho. Desde a democracia grega e da república romana na Antiguidade é assim. A grande maioria trabalha para uma minoria. E esta tem tempo livre para fazer política.

Quem tem tempo de fiscalizar seus parlamentares e governantes trabalhando 8, 10, 12 horas por dia? Qual desempregado vai comparecer a sessões legislativas ao invés de tratar da sobrevivência?

Enquanto isso, do outro lado, uns poucos "bem nascidos" dedicam-se à política em tempo integral. Alguns deles nem precisam se vender. Basta que trabalhem para que tudo continue como está. Já fazem sua parte na manutenção da injustiça social.

Para começar a mudar isso, é preciso lutar pela redução da jornada de trabalho. A medida possibilitaria criar mais empregos. Mas também, mais lazer e tempo para estudar, se informar e, principalmente, para fazer política.

3 de julho de 2012

Quando mídia golpista e petistas se entendem

Segundo  as manchetes dos jornais, o “setor público paga mais que empresas privadas no Brasil”. É o que diz levantamento feito pelo Globo a partir de dados do Censo 2010. A informação foi às bancas em meio a uma onda de greves do funcionalismo.

No dia 03/07, o Estadão publicou “Reivindicações de servidores podem custar R$ 60 bi”. E a matéria traz comentário do secretário de relações de trabalho, Sérgio Mendonça: "É mais do que a previsão de gastos do Orçamento com as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)".

Os sindicatos precisam responder a essa ofensiva. Verificar de que modo foi feito o levantamento pelo Globo. Questionar seus pressupostos e objetivos. Principalmente, a ideia de que há servidores demais, ganhando bem e trabalhando pouco. E que o setor público é um peso morto e caro.

Quanto ao setor privado, talvez fosse interessante citar informações da própria mídia. “Indústria automobilística teve isenção de R$ 1 milhão por emprego criado”, diz título de matéria de Iuri Dantas publicada hoje, no Estadão. Segundo a matéria “o governo brasileiro abriu mão de R$ 26 bilhões em impostos para a indústria automotiva”. O setor criou 27.753 novas vagas de trabalho. Façam as contas.

Mendonça representa o governo na Mesa Permanente de Negociação com o funcionalismo. Realmente, a negociação é permanente, pois o governo não apresenta propostas. De concreto mesmo, só declarações como a que ele fez. Os petistas acusam a grande mídia de ser golpista. Estão corretos. Mas parece que vale uma parceria se o alvo dos golpes for a luta dos servidores.

2 de julho de 2012

A greve dos educadores e a educação das greves

Em 1899, Lênin escreveu um texto chamado “Sobres as greves”. Em um trecho ele diz que “a greve abre os olhos dos operários não só quanto aos capitalistas, mas também ao que se refere ao governo e às leis”. 

Fazendo referência à situação da época ele afirma:

Do mesmo modo que os patrões se esforçam para aparecerem como benfeitores dos operários, os funcionários e seus lacaios se esforçam para convencer os operários de que o czar e o governo czarista se preocupam com os patrões e os operários na mesma medida, com espírito de justiça.

No texto de Lênin, a greve ensina aos operários que a neutralidade governamental é uma farsa. A polícia, o exército, os juízes e as leis viram-se contra eles da maneira mais brutal e aberta.

A greve em andamento nas universidades federais não envolve operários e patrões. Mas ex-operários e antigos trabalhadores representam o governo. Apesar disso, não negociam, recusam-se a aumentar as verbas para o setor, criaram entidades pelegas para dividir o movimento. Comportam-se de modo tão indigno quanto os lacaios a que se refere Lênin.  

Lênin dizia que os sindicatos podem ser escolas do socialismo. As greves seriam como cursos intensivos. O atual ministro da Educação foi vice-presidente nacional do sindicato dos professores universitários. Deve ter aprendido muito com as lutas e paralisações da categoria.

As lições mais importantes vieram, certamente, das negociações. Aprendeu com antigos governos como enrolar, adiar, enganar. Agora, Mercadante faz uso do aprendizado. Como muitas outras antigas lideranças populares que participam do atual governo, vai chegando à pós-graduação em peleguismo.