Doses maiores

4 de maio de 2020

Nas trevas do culto à morte e à estupidez

José Millán Astray foi um general franquista que lutou na guerra civil espanhola. Em 12 de outubro de 1936, ele participava da cerimônia de abertura do ano letivo da Universidade de Salamanca. Após um discurso de Miguel de Unamuno, respeitado intelectual, ele gritou: “Abaixo a inteligência, viva a morte!”

Desse modo, ele procurava comemorar a vitória das tropas fascistas de Franco na conflito que havia dividido a Espanha.

Em recente entrevista, o filósofo Vladimir Safatle denunciou o caráter “suicidário” dos seguidores de Bolsonaro. Segundo ele, o Brasil:

... sempre teve o Estado como operador da morte e do desaparecimento das classes vulneráveis, sempre foi gestor de uma guerra civil não declarada. Só que agora você tem um dado completamente diferente, novo: não é só uma máquina necropolítica, é uma máquina suicidária. Quando você faz manifestação com caixão e buzinaço na frente de hospital, não é só desprezar a morte do outro ou zombar da morte do outro. Essa pessoas aceitaram se colocar em risco.
Por fim, em artigo publicado na Folha, o artista e escritor Nuno Ramos afirmou:
...o patrimônio político de Bolsonaro não é propriamente político, é a violência estrita. Sua entronização, no limite, vem do crescimento progressivo, até 63 mil por ano, dos mortos por assassinatos que assombraram, por mais de duas décadas, os governos democráticos, sem que nada fosse feito. São esses mortos que se cansaram de nós, ligaram o foda-se e entronizaram seu próprio carrasco.
No Brasil de Bolsonaro surge o mesmo culto à morte e à estupidez da Espanha franquista. Mas, aqui, a guerra civil nunca foi oficializada nem jamais interrompida.

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