Doses maiores

29 de maio de 2020

Um golpe nas ruas e a cargo de milicianos

O governo Bolsonaro nega que esteja preparando um golpe, autogolpe ou intervenção militar. Pode estar mentindo, claro. Mas, talvez, algo desse tipo não seja nem necessário nem eficiente.

Vejamos o trecho abaixo de um instigante artigo do cientista político Luís Fernando Vitagliano:

Não estamos diante dos golpes institucionais (que podem ser mais lentos e custosos) ou dos golpes militares (que têm sua legitimidade previamente questionada). As milícias podem se camuflar do clamor das ruas, são militarizadas, mas bem menos burocráticas que os aparelhos estatais e conseguem se mobilizar rapidamente. Com uma faísca política acesa é possível acionar essa estrutura de violência que tem por objetivo provocar um choque que cala a própria democracia.
Em outro momento, Vitagliano cita o exemplo da Bolívia. Para ele:
Foram as milícias as responsáveis pelos atos que geraram a total desestabilização do sistema político boliviano. Nos dias que sucederam as eleições, inúmeros representantes do governo, do judiciário e dos parlamentares eleitos foram atacados em suas casas, com suas famílias, por milicianos e renunciaram aos seus mandatos. Não por pressão política, mas por violência explícita. O caso mais escandaloso noticiado pela imprensa brasileira é o da prefeita Patrícia Arce, da pequena cidade de Vinto, próxima a Cochabamba, que foi arrastada pelas ruas, agredida, humilhada e teve seu cabelo cortado. Considerou-se a sua renúncia, mas como se pode discutir renúncia nesse contexto de violência?
O artigo é de novembro de 2019, já em pleno caos do atual governo, mas ainda longe das oportunidades que a pandemia vem criando para o surgimento de muitas faíscas. Elementos de elevado poder de combustão social não faltam.

Leia também: A poderosa boiada de Bolsonaro já está passando

2 comentários:

  1. A morte da Marielle Franco e o auto-exílio de Jean Wyllyss e Marcia Tiburi inclinam nessa tendência.

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    1. Sim, já era uma tendência antes da eleição dele e não atentamos para o quanto era grave.

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