Doses maiores

25 de maio de 2020

Sobre artrópodes, gado e nazismo

Em seu livro “Cibernética e Sociedade”, de 1950, Norbert Wiener afirma que os fascistas aspiram “a uma sociedade humana construída com base no modelo das formigas”. Um coletivo fortemente hierarquizado, com tarefas rigidamente definidas e imutáveis, obedecendo cegamente a um único ser superior.

Um dos problemas dessa concepção, diz Wiener, é que na condição de artrópodes, as formigas possuem um esqueleto externo que precisa ser trocado periodicamente porque não cresce junto com o corpo.

Já outros animais, possuem um esqueleto interno que acompanha o desenvolvimento do restante do organismo. É o caso dos seres humanos, obviamente.

Essa circunstância, afirma ele, é um dos motivos que impediria os artrópodes de desenvolverem capacidade cerebral suficiente para ter uma vida social complexa, como a de outros animais. Incluindo as pessoas, evidentemente.

Outros exemplos de artrópodes são cigarras, borboletas, caranguejos, aranhas, lacraias, piolhos-de-cobra... Não, gado não é artrópode.

Ora, o fascismo representa o extremo a que pode chegar o modo de produção que domina a humanidade atualmente. Funciona como um dispositivo de segurança acionado pela burguesia quando o capitalismo encontra-se ameaçado pelos explorados ou por si mesmo.

As grandes crises representariam a fase em que o exoesqueleto das relações capitalistas começa a rachar. Quando a casca finalmente se rompe pode surgir uma nova criatura. Uma mutação para melhor, quem sabe. Um animal que desta vez tenha um esqueleto interno que lhe permita se desenvolver mais livremente.

Mas essa metamorfose também pode dar origem à mesma criatura, muito piorada. Um exemplo desse tipo de acontecimento foi a crise econômica de 1929. E a criatura que emergiu da casca foi o nazismo.

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2 comentários:

  1. Serio, fui lendo e já rindo esperando o desfecho. Não foi exatamente como imaginava, mas foi bem legal, talvez até por isso.

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