Doses maiores

16 de outubro de 2024

A luta de classes no oco do mundo

Rosana Pinheiro-Machado é uma antropóloga que vem realizando estudos de campo com moradores da periferia das grandes cidades há mais de uma década. Em entrevista à revista eletrônica CTXT, ela afirma que suas pesquisas indicam “fortes evidências de que os setores que escaparam à pobreza apoiam políticos autoritários. A insuficiência do setor público e a precariedade do mercado de trabalho, diz ela, proporcionam o cenário perfeito para que figuras conservadoras do marketing digital se tornem novos líderes políticos”. Segundo Rosana, muitas pessoas entram nessa lógica porque querem melhorar de vida, mas acabam caindo em redes de extrema-direita.

Citando Pablo Marçal, a antropóloga lembra que ele “conhece todas as técnicas populistas. Domina redes, algoritmos, invade o cérebro das pessoas, estuda neurolinguística”. E exemplifica destacando uma frase em que Marçal se referia a Guilherme Boulos: "O outro lá invade terrenos. Eu invado cérebros. Entro no cérebro da pessoa, faço ela ficar com raiva e depois pulo para o outro lado".

Marçal utiliza técnicas capazes de atrair pobres e remediados. Transforma milhões de frustrados pelas falsas promessas de prosperidade em pessoas socialmente egoístas e selvagens. Ocupa a vida oca dos ressentidos, os enfurece e pula “para o outro lado”.

E deste lado, ficamos nós, entregando pacotes vazios, etiquetados com palavras abstratas como “austeridade”, “responsabilidade fiscal” e “união nacional”. Não à toa, a raiva sentida pela maioria pobre da população se transforma em votos conservadores e em mobilização fascista.

Marçal, Bolsonaro e outras lideranças canalhas só fazem o que boa parte da esquerda deixou de fazer: travar a luta de classes bem no meio do oco do mundo.

Leia também:  A esfinge dialética: decifra-me, enquanto te devoro

Um comentário:

  1. Serginho, acho que quis dizer que o Bolsonaro e Marçal travam a luta de classes no sentido de fazer, não? Se for isso eu não concordo. Se for que eles entram na luta de classes para travar, no sentido de impedir eu concordo. Entendo que sim, que setores que escaparam da pobreza abraçam essa possibilidade de futuro com as falsas promessas da extrema-direita, mas e a que continua na pobreza, também não abraçam essas propostas? O Marçal estudou neolinguística? Ouço dizer que ele é inteligente. Eu não consigo entender onde entra esse conhecimento e capacidade dele, quer dizer, entendo, nos limites da estupidez reinante, o que não me parece ser algo inteligente e culto.

    ResponderExcluir