Doses maiores

20 de novembro de 2019

O racismo nas relações de consumo

“Renda equivalente não evita desigualdade racial no consumo”, diz matéria do Globo de hoje. A reportagem cita dados de um levantamento da consultoria IDados, com base na Pesquisa de Orçamentos Familiares 2017/2018 do IBGE.

O estudo mostra que “negros gastam menos em serviços como educação, saúde e transporte do que brancos”. Mas que os motivos para isso não são apenas econômicos.

Marcelo Paixão, professor da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, estuda desigualdade racial no Brasil. Segundo ele, o desconforto em consumir em ambientes dominados pela população branca, como shoppings e educação privada pode explicar esse consumo menor, mesmo com a renda semelhante.

Paixão cita, por exemplo, a dificuldade na concessão de créditos para empresários negros no país. Quase 45% das demandas desse recorte populacional não são atendidas, enquanto que somente cerca de 30% dos brancos enfrentam esse problema.

Essa situação faz lembrar a Lei Afonso Arinos, primeira a considerar crime o preconceito racial no Brasil. Ela foi aprovada em 1951, após um hotel de luxo paulista recusar hospedagem à bailarina norte-americana Katherine Dunhan.

Na prática, essa legislação restringia-se a relações de consumo. Mesmo assim, valia mais no papel que na realidade. Doze anos depois de aprovada, o marinheiro João Cândido, herói da Revolta da Chibata, teve sua hospedagem recusada em vários hotéis do centro do Rio de Janeiro.

E, como se vê pela reportagem, a situação pouco mudou.

Leia também: Preconceito racial e consumo

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