Doses maiores

17 de março de 2020

Coronavírus-19: o agronegócio fazendo merda

Em 2005, Mike Davis lançou o livro “O Monstro bate à nossa porta”, alertando para a ameaça de uma pandemia global de gripe aviária. Felizmente, a previsão não se confirmou.

Mas as condições denunciadas por ele para que surgisse uma doença viral capaz de se generalizar persistiram e muito possivelmente pioraram. Tudo indica que é o que presenciamos agora.

Um trecho de um artigo que Davis publicou em 2009, dá uma pista sobre uma das mais prováveis causas da atual pandemia.

...a criação animal nas últimas décadas tem se transformado em algo que mais parece a indústria petroquímica do que a tradicional fazenda familiar retratada em livros didáticos.

Em 1965, por exemplo, havia 53 milhões de porcos em mais de 1 milhão de fazendas americanas. Hoje, a criação de 65 milhões de suínos está concentrada em 65 mil instalações - metade com mais de 5 mil animais.

Essencialmente, houve uma transição entre os velhos chiqueiros para enormes criadouros produzindo vasta quantidade de excrementos, com dezenas e até centenas de milhares de animais com sistemas imunes enfraquecidos, sufocando no calor e no estrume, enquanto trocam doenças entre si a uma velocidade absurda.

A Smithfield Foods, por exemplo, tem duas filiais nos Estados Unidos que criam anualmente mais de 1 milhão de suínos cada, gerando centenas de substâncias tóxicas em lagoas cheias de merda. Qualquer um que presenciar esse tipo de produção pode compreender intuitivamente o quão profundamente o agronegócio tem mexido com as leis da natureza.

Ainda que a origem do coronavírus-19 não esteja esclarecida, certamente o agronegócio tem grande participação nessa merda toda.

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