Doses maiores

26 de julho de 2023

Racismo operário na África do Sul

Segundo João Bernardo, em seu livro “Labirintos do Fascismo”, a primeira greve da África do Sul ocorreu em 1850. Mas sua motivação não foi das mais nobres. O movimento se restringia a operários brancos e pretendia impedir o desembarque de condenados a trabalhos forçados. Temia que uma colônia penitenciária fosse transformada em reserva de mão-de-obra gratuita, levando a um achatamento salarial.

Momento mais significativo, porém, ocorreu em 1911, quando foi promulgada uma lei estabelecendo demarcação rigorosa entre trabalhadores brancos e negros nas minas e fábricas, com pouca resistência dos sindicatos. Essa forma embrionária de apartheid acabou por institucionalizar as barreiras racistas que impediriam o proletariado de se constituir como classe e, portanto, de enfrentar de maneira eficaz o capital.

Em 1921, os donos das minas iniciaram uma grande ofensiva para que os mineiros negros mais habilidosos tivessem acesso a funções semiqualificadas. Surgiu uma enorme onda de greves em defesa dos privilégios da mão-de-obra de origem europeia que logo se transformou numa grande insurreição. Alguns sindicatos armaram os operários e cerca de 50 deles morreram.

Ao mesmo tempo em que defendiam a separação racial dos mercados de trabalho, os grevistas procuravam fundar uma república dos trabalhadores. Dos trabalhadores brancos, claro. A palavra de ordem era “Proletários de todo o mundo uni-vos por uma África do Sul branca”. O mais lamentável é que o movimento foi impulsionado por militantes da Internacional Comunista.

A este fenômeno Bernardo chama de “nacional-bolchevismo”. Ou seja, a luta socialista subordinada a objetivos nacionalistas. O caso sul-africano mostra que as consequências de uma concepção como esta podem ser as mais trágicas e vergonhosas.

Leia também:
Do socialismo nacional ao nacional-socialismo
Wagner, Hitler, Prigojin, Putin, Otan: uma ópera infernal!

2 comentários: