Está na imprensa mais uma polêmica envolvendo criação artística e inteligência artificial. A atriz Scarlett Johansson alega que a OpenIA utilizou sua voz sem autorização em uma de suas ferramentas. A empresa afirma, porém, que usou o timbre vocal da atriz apenas como inspiração.
Talvez uma olhada no livro “O Olho do Mestre” ajude a esclarecer. Segundo o que diz seu autor, Matteo Pasquinelli, o fundador da economia moderna, Adam Smith, foi o primeiro a esboçar uma teoria do trabalho das máquinas em “A Riqueza das Nações”. Nesta obra, Smith reconhece que novas máquinas surgem a partir da organização das tarefas no locais de trabalho.
Charles Babbage, pioneiro da computação, formulou ideia parecida em seu livro “Sobre a economia de máquinas e manufaturas”: “Quando cada processo é reduzido ao uso de algumas ferramentas, a união de todas elas, acionadas por uma força móvel, constitui uma máquina”.
Se juntarmos Smith, Babbage e Marx, podemos concluir que as máquinas são produto da divisão coletiva do trabalho e uma questão política se coloca imediatamente: quem pode reivindicar o crédito pela invenção das máquinas? Trabalhadores, chefes de produção, engenheiros ou a combinação de todos eles? Quem detém os direitos sobre esta divisão coletiva do trabalho?
Ou seja, a famosa atriz sofre de um mal conhecido por milhões de pessoas, há muitas décadas. A voz dela foi apropriada tal como vem acontecendo com tantos outros recursos, competências e habilidades dos trabalhadores. A única certeza, mesmo, é o objetivo de todo esse processo: manter e ampliar a extração de trabalho não pago dos trabalhadores. Incluindo Scarlett e vários de seus colegas.
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