Doses maiores

23 de agosto de 2017

A parceria Estados Unidos-China contra a esperança

“Chineses abrirão fábrica automatizada nos EUA para produzir 800.000 camisetas da Adidas diariamente”, diz reportagem publicada por “stylourbano” e reproduzida pela IHU-Online, em 04/08.

O relato dá um exemplo de como as promessas eleitorais de Donald Trump sobre a criação de empregos nos Estados Unidos estão em aberta contradição com a atual fase do capitalismo.

As tais 800 mil camisetas diárias serão produzidas graças a uma “tecnologia revolucionária” da empresa estadunidense Softwear Automation, de Atlanta.

A iniciativa, diz a notícia, mostraria que os empresários chineses “estão seguindo as normativas impostas por Donald Trump de trazer a fabricação ‘Made in USA’ de volta ao país através da Industria 4.0”.

O representante do lado chinês dessa transação é Xu Yingxin, liderança do setor têxtil em seu país. Segundo ele:

A ideia da Indústria 4.0 e fabricação inteligente está gradualmente se tornando realidade. Ela está revolucionando a fabricação de roupas eliminando o trabalho manual repetitivo humano.

O problema, diz a matéria, é que a transferência da produção para terras americanas “acabará com os empregos de milhões de pessoas que fazem o processo manual de costura, principalmente nos países em desenvolvimento”.

Em compensação, nos Estados Unidos, seriam criados ridículos ”400 novos postos de trabalho no Arkansas”.

Mas como ficariam os milhões de desocupados “nos países em desenvolvimento”? Simples. Devem ser criadas “micro-faculdades para facilitar a mudança de profissão”.

Micro-faculdades levam a micro-esperanças ou a nano-esperanças? Se depender da parceria sino-americana de exploração do trabalho humano, esperança nenhuma para quase ninguém.  

Leia também: A grande extinção de empregos e o abismo

10 comentários:

  1. Fico aqui me perguntando como se aplicaria a ideia de mais-valia no contexto em que o produto é manufaturado em um processo completamente autônomo...

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    1. Você está se referindo à automação? O processo seria autônomo em relação à intervenção humana?

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    2. Na minha limitada compreensão, fazendo uma analogia com o operário que produz um sapato. Se pela produção do sapato ele aufere 10 como pagamento, enquanto que o capitalista comercializa por 20, haveria uma situação onde 10 é o valor da mais valia. Mas nos casos onde não há participação da mão de obra humana, que seria em tese a tendência da automação... é nesse contexto onde eu indago. pode o capitalista vender por 20 o sapato produzido pela máquina sem que isso constitua uma situação de mais-valia? a automação rompe com esse conceito marxista?

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    3. Pois é, intrigante. Mas se você pensar bem, a automação somente leva ao extremo uma lógica que já vinha desde a máquina-ferramenta. Esta última foi se desenvolvendo e eliminando cada vez mais a intervenção humana. Nesse sentido, mesmo a mais ampliada robotização ainda depende da presença humana, nem que ela se reduza ao nível do trabalho de engenheiros e trabalhadores da área da robótica. Seriam eles os produtores do mais-valor. Por outro lado, se esses avanços aumentam muito a produtividade, em sua essência tendem a derrubar a taxa de lucro porque esta tem como base essencial a exploração de trabalho humano. Quanto menos deste último está presente no processo de produção, menor a taxa de mais-valor. É o que Marx chamou de lei da queda tendencial da taxa de lucro, cuja ação pode ser travada ou revertida por outros fatores, mas que se mostra bastante persistente, dada a compulsão por inovações tecnológicas que a competição capitalista cria. Complicado debater essas questões por aqui, mas seriam estas as questões em jogo de forma grosseiramente resumida em termos marxistas.

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    4. Excelente, desconhecia a lei da queda tendencial da taxa de lucro.

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    5. A mais valia ficaria transmutada para a relação preço de custo e o que o Mercado estaria disposto a pagar. Se o custo por unidade gor de 1,00 U$D(HUM DÓLAR) pela escala e o Mercado pagar U$D 60,00( 60 DÓLARES). Será desprezível a taxa de mais valia dos 400 empregados pela escala dentro do U$D 1,00 poderia ser equivalente a U$D 0,001(hum centavo de dólar) por camisa ADIDAS. O LUCRO SERÁ TÃO ASTRONÔMICO E O VALOR TRABALHO TÃO RESIDUAL QUE EM FACE DE OS CUSTOS FIXOS DESAPARECEREM EM MENOS DE 15 DIAS, TAL A SUA DILUIÇÃO NA ESCALA DE PRODUÇÃO QUE SERÁ DESCONSIDERADO. ESTAREMOS INDO PARA "ADMIRÁVEL MUNDO NOVO", OU PARA "LARANJA MECÂNICA" ? A busca pela resposta é ponto que esta fora da curva! Consequência fora da caixinha. Poderiamos taxomizar este paradgma da produção como " O SALTO QUÂNTICO DA PRODUÇÃO DE RIQUEZA ".

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    6. Também é possível o cenário Mad MARX!
      A lei da queda tendencial da taxa de lucro já foi interpretada de modo fatalista no sentido de que o capitalismo entraria em colapso e daria lugar a uma sociedade superior. Mas atualmente diante das alternativas socialismo ou barbárie, desembocar nesta última é o mais provável. E como disse Meszáros, "barbárie, se tivermos sorte"...

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  2. https://singularidadeabstrata.wordpress.com/2017/08/24/1189/

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  3. "Uma coisa é certa, não existe na teoria econômica clássica (Adam Smith, David Ricardo, Stuart Mill, etc.) e nem na teoria marxista a possibilidade do robô gerar mais-valia. Ou seja, o robô entra do lado do capital na equação produtiva." - José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE.

    http://www.ihu.unisinos.br/570969-os-robos-ficam-do-lado-do-capital-na-equacao-marxista

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