Doses maiores

31 de março de 2020

Pandemia e oportunismo: trabalho precarizado

Especialistas em investimentos financeiros vêm aparecendo nas redes virtuais ou grande mídia para lembrar que toda “crise também é oportunidade”. Eles dizem coisas repugnantes como “é hora de investir em ações de empresas de equipamentos médicos”.

É feio, mas cínicos não costumam mentir. É verdade que a atual crise pandêmica está criando muitas oportunidades. Só que a grande maioria delas servirá para aprofundar ainda mais a exploração do trabalho pelo capital.

“O mundo nunca vai ser o mesmo após a pandemia”, diz um consenso surgido com a crise causada pelo coronavírus-19. “O teletrabalho veio para ficar” é outro desses consensos.

Muitos funcionários do setor de serviços e servidores públicos que hoje estão trabalhando em casa podem não retornar mais a seus escritórios e repartições, quando a pandemia der uma trégua.

Mas a grande maioria estará muito longe de desfrutar do privilégio de “ficar perto da família e longe das cobranças”. Muito mais provável é uma nova epidemia de trabalho domiciliar à moda do século 19 na Europa ou do sul global atual, com suas oficinas em garagens e porões residenciais.

A tecnologia para essa transição já está pronta há algum tempo. A produtividade do teletrabalho não apenas pode ser medida em tempo real. Ela também permite condicionar a remuneração final do “produtor” tanto quanto o trabalho por peça no início da Revolução Industrial.

E aqueles que resistirem ainda serão condenados por não colaborarem com o “esforço de guerra no combate ao vírus”.

As oportunidades oferecidas pela atual pandemia ao grande capital são muitas. Uma delas será, certamente, promover uma nova e enorme onda de precarização do trabalho.

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