Doses maiores

28 de março de 2020

Anticorpos contra o fascismo: o populismo (2)

Voltando ao conceito de populismo, em seu livro “As novas faces do fascismo”, Enzo Traverso cita uma definição de Jacques Rancière:
Populismo é o nome conveniente sob o qual se procura dissimular a contradição exacerbada entre a legitimidade popular e a legitimidade de especialista, ou seja, a dificuldade que o governo da ciência tem em se adaptar às manifestações da democracia... 
O filósofo francês está se referindo aos governos neoliberais, que alegam tomar decisões puramente técnicas. Não seriam, portanto, nem de esquerda nem de direita.

É com essa pretensão que, por exemplo, a chamada “troika” manda na Comunidade Europeia. Trata-se de uma entidade informal composta por FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia. Ela dita políticas para todos os governos da União Europeia, sem ter recebido um único voto popular.

Foi a troika que impôs as políticas que, nos últimos anos, aprofundaram a destruição dos serviços públicos que, agora, fazem tanta falta diante do avanço do coronavírus-19.

Qualquer um que questione essa lógica, é considerado populista. Mas quando o governo que faz isso é de esquerda, é asfixiado até se render, como aconteceu com o governo do Syriza, na Grécia.

Governos populistas de direita, porém, muito dificilmente se indispõem com os neoliberais, mantendo intactos os interesses do grande capital. Mesmo quando desferem ataques fascistas à democracia, continuam a ser tratados apenas como populistas. Afinal, quanto menos participação social e política, melhor para o “ambiente de negócios”.

É desse modo que em nome do combate ao populismo, o neoliberalismo impõe políticas de direita que bloqueiam os caminhos da esquerda, mas abrem avenidas para o avanço do fascismo.

Leia também: Anticorpos contra o fascismo: o populismo

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