Doses maiores

16 de dezembro de 2020

Engels contra o reformismo

Nas eleições de outubro de 1881, os socialistas alemães obtiveram 312 mil votos, conquistando doze cadeiras no parlamento, relata Tristram Hunt no livro “Comunista de Casaca”. 

Na ocasião, Engels escreveu: “Após três anos de perseguição sem precedentes, durante os quais qualquer forma de manifestação pública e propaganda era uma absoluta impossibilidade, nossos rapazes voltaram, não apenas com toda a força, mas mais fortes do que nunca”.

Mas esse avanço também tinha seus riscos, achava Engels. O sucesso eleitoral levou a que o poder político se deslocasse das bases militantes para as lideranças parlamentares, muitas delas de classe média e perigosamente suscetíveis a ideias reformistas.

Engels, que sempre alegou que "as massas alemãs eram muito melhores que seus líderes", examinava a atuação da bancada parlamentar em busca de sinais de oportunismo. Muitas vezes, direto de sua casa, partiam instruções sobre como votar ou que posição política assumir em qualquer controvérsia.

Sendo um assíduo frequentador dos círculos burgueses e conhecedor de seu poder de sedução, Engels mantinha-se inflexível quanto a um princípio fundamental para a luta dos socialistas: “A emancipação da classe trabalhadora deve ser obra da própria classe trabalhadora.”

Desse modo, ele e Marx colocaram-se firmemente na defesa do que decidira um congresso clandestino do partido, realizado em 1880, na Suíça. Nele foram rechaçadas quaisquer ilusões reformistas na ocupação do parlamento e reafirmada a luta revolucionária "pela utilização de todos os meios possíveis".

Infelizmente, sucessivas vitórias eleitorais nas décadas seguintes acabaram por distanciar o partido alemão do caminho que Marx e Engels defendiam. Um fenômeno que se repetiria com muitos outros partidos de esquerda.

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