Doses maiores

28 de setembro de 2023

Da contracultura psicodélica às big techs neoliberais

Em seu livro “A sobrevivência dos mais ricos”, Douglas Rushkoff relata sua experiência como parte da geração que participou da onda tecnológica surgida no Vale do Silício.

No começo da década de 1990, diz ele, os mundos da contracultura e da informática pareciam idênticos. Os membros da comunidade psicodélica da Califórnia eram particularmente adequados para imaginar ambientes virtuais e novos modos de comunicação.

Recrutando sua força de trabalho em ambientes de rebeldia cultural, a revolução cibernética seria caracterizada menos pela burocracia militar do pós-guerra, ou pelas corporações de alta tecnologia, do que pelos “novos comunalistas”.

Se a internete tinha um inimigo, diziam os filhos da geração hippie, não seriam as empresas que ofereciam brinquedos para nossa diversão e ainda pagavam pelo nosso tempo. Era o governo, que usava computadores para jogos de guerra, prendia jovens hackers sob falsas acusações e tentava censurar nossa comunicação online.

A “Declaração de Independência do Ciberespaço” publicada por John Barlow, em 1996, atacava o autoritarismo governamental sobre a internete, considerada um novo “projeto coletivo da humanidade”. Mas poucos se lembram do lugar em que o documento foi lançado: “Davos, Suíça”. Em pleno Fórum Econômico Mundial, ponto de encontro dos campeões da globalização neoliberal.

Não percebíamos, conclui o autor, que banir o governo da internete criaria uma zona livre para a colonização corporativa. Foi aí que começaram a surgir monstrengos empresariais como Google, Facebook, Uber e Airbnb.

Novamente, um movimento surgido com pretensões rebeldes foi capturado pela lógica do capital. Contra isso não há garantias, a não ser a constante vigilância e mobilização militantes.

Leia também: Bilionários sem vestígios de humanidade

4 comentários:

  1. Ai, ai, Bill Gates, Steve Jobs e outros nunca foram rebeldes, muito pelo contrário.

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    1. Não. Eles, não. Eles recrutaram sua força de trabalho entre os rebeldes. Ofereceram os "brinquedos" para a rapaziada brincar.

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    2. Certo e esses rebeldes se encantaram e viraram capitalistas

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    3. A maioria se "vendeu pro sistema", como a gente dizia antigamente. Mas o Rushkoff, que era um deles, não.

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