Doses maiores

28 de setembro de 2021

O delivery é o capitalismo com pressa

“Briga no varejo, agora, é para produto chegar à casa do cliente em horas e não mais em dias”, diz matéria publicada no Globo, em 09/08/2021.

O Magazine Luiza pretende “fazer entregas em até uma hora em todas as capitais do país para produtos de até 15 quilos”, reforça a reportagem. Já a Amazon, anunciou entrega gratuita em um dia útil em mais de 50 cidades e iniciou testes para fazer os produtos chegarem no mesmo dia da compra.

A reportagem arrisca uma explicação que não explica nada: “Para especialistas e empresas, o esforço ocorre por uma necessidade do próprio consumidor, que tem cada vez mais pressa para receber as compras em casa”.

Mas em um trecho de seus rascunhos para “O Capital” (Grundrisse), Marx oferece uma explicação muito mais convincente:

Enquanto o capital deve por um lado, esforçar-se por derrubar todas as barreiras espaciais para realizar o intercâmbio (isto é, a troca), e conquistar todo o mundo como seu mercado, esforça-se, por outro lado, em anular o espaço pelo tempo, isto é, reduzir a um mínimo o tempo despendido no movimento de um lugar ao outro. Portanto, quanto mais desenvolvido o capital, mais extenso o mercado pelo qual ele circula, (...) a órbita espacial de sua circulação, mais ele se esforça simultaneamente em direção a uma ainda maior ampliação do mercado e a uma maior anulação do espaço pelo tempo.

Este texto de 1858 já mostrava uma tendência inevitável do capital. É a pressa de lucrar, mesmo que isso destrua tudo a sua volta. Nós é que deveríamos ter pressa de nos livrarmos dele.

Leia também: Marx e o espaço anulado pelo tempo

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