A população rural brasileira representava 69% do total em 1940. Em 1991, esse percentual havia caído para 26%. Os quase 75% que migraram para as cidades encontraram uma estrutura urbana incapaz de acolhê-los.
Diante da incapacidade do Estado e outras instituições para responder a essa situação, duas “soluções” surgiram “para organizar a vida caótica das cidades: a fé e o fuzil”. É o que afirma Bruno Paes Manso, utilizando a expressão que dá nome a seu livro.
Quanto à fé, diz o autor, verifica-se o fortalecimento da autoridade religiosa representada pelo crescimento dos pentecostais, a partir dos anos 1950. No lugar da Teologia da Libertação, que pregava a organização coletiva dos pobres, surge o neopentecostalismo, baseado na fé e empenho individuais, com foco na família, para combater o mal e prosperar em um mundo condenado ao apocalipse.
Com relação à ordem imposta pelo fuzil, verifica-se o aumento da violência policial e da criminalidade nos bairros pobres, a partir dos anos 1980, e a disseminação das facções nos presídios e o surgimento das milícias, a partir dos anos 1990.
No Rio, o Comando Vermelho, fundado nas prisões, encontra na venda de cocaína uma maneira lucrativa de financiar sua organização. Priorizando o controle territorial, facções deste tipo tornaram-se donas dos morros.
Em São Paulo, o controle territorial não fazia parte da estratégia dos traficantes. Havia uma rede horizontal de pequenos empreendedores do crime atuando “sem regulação”. O PCC surgiria dentro dos presídios para se tornar uma “agência reguladora do mercado atomizado do crime paulista”.
Os elementos trazidos pela obra de Paes Manso são fundamentais. Continuaremos a comentá-la.
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