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16 de janeiro de 2024

Fé e fuzil: a metanoia e os traficrentes

“Metanoia” é um conceito que aparece no livro “Fé e Fuzil”, de Bruno Paes Manso. Representa “uma mudança de consciência e de comportamento que não acontece por ameaça de punição, nem por mera pressão social, mas por convicção pessoal, em decorrência de uma crença que faz o sujeito passar a enxergar o mundo de outra forma e a agir conforme ela.”

O processo é radical e quase sempre envolve uma religião, diz o autor. Quem passa por ele adota “outro programa mental”, que o torna um “abençoado”.

Segundo Manso, a partir da metanoia, o “abençoado” iniciava seu caminho sem passivos. Mesmo porque para boa parte dos pentecostais, “a perversidade pregressa, a maldade, as pisadas na bola em geral, tinham sido resultado da ausência de Jesus na vida do indivíduo” e da “influência do Diabo, o inimigo de Cristo”.

Essas conversões ofereciam respostas para suportar o cotidiano das misérias materiais e existenciais dos centros urbanos, criar oportunidades, abrir caminhos. “Bastava crer para ver o portal se abrir. O crente ganhava passaporte para um novo mundo que direcionava suas escolhas, dava uma missão transcendente e preenchia o vazio da vida”, afirma o autor.

Após a conversão, muitos abandonaram suas atividades criminosas. Mas outros se mantiveram fora da lei. É o caso de Peixão, um traficante que criou o Complexo de Israel na zona norte do Rio, unificando sob seu comando uma violenta região conhecida como “Faixa de Gaza”. É um exemplo do que se costuma chamar de “traficrente”.

Também mostra como o sistema de dominação utiliza os mais diversos elementos a seu favor, enquanto espalha a barbárie.

Leia também: PCC, pentecostais e reprogramação mental

4 comentários:

  1. Bem fundamentado, esse conceito é excelente.

    Como eu defendo que nao existe nenhuma outra explicação psicológica senão a analítico comportamental, ficaria de decepcionado se esse menino fosse buscar nas metafisicas deliriantes da psicanálise essa fundamentação . Rsrsrs

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