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26 de fevereiro de 2024

Fé e Fuzil: a revolta aliada da barbárie

Abaixo, outro relato do livro “A Fé e o Fuzil”, de Bruno Paes Manso.

Ney Santos nasceu em um bairro pobre de Embu das Artes, na Grande São Paulo. Não veio de movimentos sociais ou das comunidades católicas. Em 1999, foi condenado por receptação. Quatro anos depois, foi preso em flagrante, dentro de um automóvel utilizado em um assalto, passando dois anos na cadeia. De volta à liberdade, montou uma ONG que distribuía brinquedos no Dia das Crianças e passou a produzir shows na cidade.

Em 2010, se candidatou a deputado estadual. Durante a campanha, foi acusado de lavar dinheiro para o PCC em seus quinze postos de gasolina. Não foi eleito. Em 2012, elegeu-se vereador, mas foi condenado por compra de votos. Conseguiu manter o mandato graças a uma decisão judicial.

Teve a candidatura à prefeitura de Embu barrada pela Lei da Ficha Limpa, em 2016. Com uma liminar, venceu a disputa e assumiu o cargo. Criou uma guarda municipal ao estilo da Rota. Simpático e comunicativo, administrava em contato direto com a população nas redes sociais. Promoveu shows populares com celebridades do sertanejo e atuou com agilidade durante a Pandemia. Enfrentou novos processos, mas foi reeleito em 2020.

Durante a campanha, pesquisas mostraram que seu suposto envolvimento com o PCC era considerado positivo pela maioria. Facilitaria o controle dos roubos na cidade.

Apoiou Bolsonaro em 2018 e 2022.

Esse  caso é apenas mais um exemplo dos caminhos que tomou a frustração popular frente à “democracia racionada” da qual também nos tornamos reféns. No lugar da revolução, a revolta que se alia à barbárie.

Leia também: Fé e Fuzil: PCC, religião e racionalidade

Um comentário:

  1. A gente vai para alguns lugares que nem imagina o que é por dentro e quem governa. Embu das Artes é uma cidade bem bonitinha, turismo, artesanatos, e conheci pessoas bem legais que moram lá. Que ficha corrida criminal que tem esse prefeito, não. Entendo perfeitamente o que pensam os moradores dessa cidade e outros cantões do país: melhor ter um bandido que protege a gente de outros bandidos.

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