Doses maiores

9 de fevereiro de 2024

O carnaval como celebração da resistência

Em 1988, a Mangueira desfilou com o enredo “Cem anos de liberdade, realidade ou ilusão?”. Naquele ano completava-se o centenário da Abolição e a escola questionava se os negros estavam realmente livres da escravidão. O samba de Hélio Turco, Jurandir e Alvinho dizia:

...a Lei Áurea tão sonhada / Há tanto tempo assinada / Não foi o fim da escravidão / Hoje dentro da realidade / Onde está a liberdade / Onde está que ninguém viu

(...)

Pergunte ao Criador / Quem pintou esta aquarela / Livre do açoite da senzala / Preso na miséria da favela

No mesmo ano, a Unidos de Vila Isabel, trouxe o samba “Kizomba, Festa da Raça”. A letra de Rodolpho, Jonas e Luiz Carlos da Vila não deixou de lembrar a resistência negra, a rica herança africana, mas enfatizou seu caráter de festa e celebração:

Zumbi valeu / Hoje a Vila é Kizomba / É batuque, canto e dança / Jogo e Maracatu

(...)

Sarcedote ergue a taça / Convocando toda a massa / Nesse evento que congrassa / Gente de todas as raças / Numa mesma emoção

As duas escolas levantaram as arquibancadas e empolgaram a avenida. Na apuração, a votação foi apertada, com a Vila sendo campeã por apenas um ponto de diferença.

Mas o mais importante foi demonstrar em plena Sapucaí que não pode haver oposição entre festa e luta. Ou melhor, que não há resistência popular que permaneça sem que seja 
celebrada constantemente.


Bom carnaval e boas batalhas. As de confete e as outras!

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