Doses maiores

29 de fevereiro de 2024

Os idiomas artificiais e o extermínio das línguas indígenas

Klingon: Star Trek. Dothraki: Game of Thrones. Nadsat: Laranja mecânica. Kryptoniano: Super-Homem. Na'vi: Avatar... Esta lista refere-se às línguas criadas para séries, filmes e livros de fantasia e ficção científica. Com menção especial para os idiomas Quenya, Sindarin e Élfico, inventados por J.R.R. Tolkien para a saga “Senhor dos Anéis”.

Fenômenos de massa, alguns desses idiomas artificiais estão disponíveis até em aplicativos de aprendizado de línguas estrangeiras. Ou seria melhor dizer alienígenas?

Mas o caso de Tolkien é específico. Ele criou os idiomas antes de inventar os povos que os utilizam. Faz todo sentido. Afinal, as formas simbólicas de comunicação de um povo dizem quase tudo sobre o que ele é, sua história, crenças, cultura, moral, religião. É por isso que entre as formas de dominação e extermínio cultural mais eficazes de um povo está a supressão de seu idioma. Um exemplo claro disso é a situação dos indígenas.

Calcula-se que quando os europeus invadiram as terras que atualmente chamamos Brasil, havia mais de 5 milhões de indígenas, falando cerca de 1.200 línguas. Hoje, esses idiomas foram reduzidos a um número entre 160 e 180. Uma das consequências disso é o baixo índice de pessoas que se identificam como indígenas na população brasileira. Ao massacre físico desses povos juntou-se seu extermínio simbólico. Um etnocídio.

Na esfera do entretenimento comercial, o capitalismo se apropria dos mundos criados pela fantasia humana para gerar cada vez mais lucros, beneficiando cada vez menos gente. Ao mesmo tempo, utiliza o extermínio cultural para eliminar mundos incompatíveis com sua lógica destruidora da vida e produtora de injustiça social.

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