Doses maiores

18 de julho de 2024

O apocalipse na sala de estar

“Os fundamentos míticos do capitalismo” é o título de um artigo muito interessante recentemente publicado por Gil-Manuel Hernández i Martí, professor da Universidade de Valência. O autor relaciona uma série de mitos da tradição ocidental a temas como capitalismo, antropocentrismo e aquecimento global.

Além disso, apresenta o conceito de “capitalismo catabólico”. Catabolismo, diz Martí, refere-se a “mecanismos metabólicos de degradação através dos quais um ser vivo devora a si mesmo”.

Ao canibalizar-se, afirma, “o capitalismo catabólico transforma a escassez, a crise, o desastre e o conflito numa nova esfera de obtenção de lucro. Ou seja, a mercantilização do apocalipse acaba gerando lucrativas expectativas de negócios”.

Parece um pouco complicado. Mas outro conceito talvez possa ajudar. Trata-se do termo “realismo capitalista”, criado por Mark Fisher e descrito por Martí como “uma condição cultural e política em que o capitalismo permeou tão profundamente a sociedade que é percebido como a única forma possível de organizar a vida. Assim, mesmo quando as pessoas reconhecem os problemas e os fracassos do capitalismo, é-lhes difícil imaginar e trabalhar alternativas significativas, devido à hegemonia esmagadora do pensamento capitalista”.

Em outras palavras, o capitalismo matou o futuro, enquanto vai destruindo o presente. Para não falar na transformação do passado em uma maçaroca de episódios soltos e isolados. Tudo isso agravado pelo caos informacional que a extrema direita vem colocando a serviço do sistema que afirma combater.

Talvez, uma imagem que consiga traduzir toda essa confusão seja a que ilustra esta pílula. Afinal, nada mais esclarecedor dos tempos atuais que colocar à venda a explosão de uma bomba atômica como objeto de decoração.  

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