Doses maiores

6 de setembro de 2022

Das muitas conspirações, a menos pior

A situação que vivemos atualmente é resultado de várias conspirações. Começou com o golpe do impeachment tramado pelos tucanos, inconformados com sua derrota eleitoral. Seu braço operacional, a Lava-Jato. 

Um tanto tardia, mas fundamental, foi a entrada em cena da cabala do Centrão, integrando o próprio governo a ser derrubado. 

O objetivo era enterrar qualquer ambição eleitoral do PT nas eleições seguintes. Mas a mancomunação militar atropelou geral, obrigando todas as outras a confluir para a eleição de Bolsonaro.

Empossado, o novo presidente dificultou bastante as coisas. Mas o entrelaçamento de interesses estabelecidos para viabilizar a deposição de Dilma manteve harmonia suficiente para sustentar o possuído.

Incluída aí a omissão igualmente conspirativa das “instituições democráticas” diante dos muitos crimes cometidos por Bolsonaro antes e durante a pandemia. 

Mas quase 700 mil mortes pela Covid, economia rastejando, desemprego voando e fome se espalhando, além das inúmeras ilegalidades cometidas pela conluio lavajatista, acabaram permitindo o retorno de Lula ao cenário eleitoral. 

Nesse momento, sob o temor de uma derrota acachapante do capacho das casernas, alguns conjurados abandonaram suas cabalas de origem. Iniciaram uma via conspiratória alternativa, com espaço para conchavos com forças institucionais à esquerda. 

Mesmo assim, a grande conspiração, composta por outras de variados tamanhos e formas de atuação, permanece em pleno funcionamento, sem qualquer prejuízo para os inúmeros retrocessos sociais que promoveu. Por ora, relativamente ameaçada, somente a matilha feroz que ocupa o Alvorada. 

Verdadeiramente prejudicados, os de sempre. Vítimas da grande conjuração que une as classes dominantes há séculos. Milhões de explorados, oprimidos e massacrados, novamente condenados a escolher a conspiração menos pior.

Leia também: A esquerda aqui jaz. Mas nunca em paz

14 comentários:

  1. Será que eu entendi bem, a burguesia conspira mais uma vez, dessa vez usando o Lula? Tudo igual as demais conspirações dela? Ela oportunizou como com o Bolsonaro uma saída para seus interesses?

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    1. Sim. A gente pode até entender conspiração mais como uma metáfora para projeto de poder e considerar que uma conspiração que tenha o Lula como elemento importante não é o projeto de poder que grande parte da burguesia gostaria, mas o fato é que a grande conspiração que levou ao golpe de 2016 continua firme. Acho difícil que uma eleição do Lula venha a mudar a essência disso. Ainda que essa seja nossa melhor chance hoje.

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  2. Lula se submeteu a ser o gerente do capital desde o primeiro mandato. O PT permaneceria PCO se não fosse essa "venda de alma". Eu tenho uma metáfora que gosto muito sobre o Golpe e a repugnância das elites pela eficiência gerencial do PT: eu digo que Lula é uma excelente cozinheira preta e gorda que foi contratada por um desembargador. No começo, ela era tímida e silenciosa, mas os elogios foram tantos que ela ficou mais abusada: começou a gargalhar na cozinha e levar parentes pra comer lá. O desembargador ficava incomodado ao receber seus amigos desembargadores, deputados, senadores e demitiu a preta gorda (a metáfora da repugnância só funciona se a cozinheira for preta e gorda...). Nosso homem infiltrado na direita vai morrer em breve e estaremos órfãos de coragem e carisma.

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    1. Boa metáfora. Uma vez comparei Lula ao mordomo do triplex que começou a achar que era seu dono, até que o prenderam acusado de ser dono daquilo que nunca possuiu

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  4. Bem kafkiano. Lembrei agora: o que mais me dói no golpe é que, no processo de "venda da alma", Lula/PT assumiu o compromisso de não desenvolver a luta revolucionária - pacificou as correntes internas; chamou o MST ao silencio e até reprimiu manifestações populares. Ou seja, abriu mão da educação popular militante - num contesto de Poder que poderia ser mais eficiente que a Record - e deixou livre a militância explícita ideológica de direita (dos jornaizões de forma sublinear e da Jovem Pan de forma escandalosa). Além disso, estava feliz demais com o sucesso e com o trabalho que não viu nos porões a luta de foice entre a Igreja Católica e as Igrejas Pentecostais. Hoje, está muito explícito: a polarização nao é entre Direita e Esquerda, Lula e Bolsonaro (isso é apenas armadura de combate); a polarização é, de fato, entre a Igreja Católica e as Igrejas Pentecostais e a maioria dos sociólogos e analistas políticos - formados na academia com lupa marxista - não conseguem ver isso.

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    1. É, talvez, seja o melhor exemplo da perda do trabalho de base que deu origem ao polo petista/cutista. Até porque grande parte desse trabalho foi feito pela Teologia da Libertação e de grupos de esquerda com origem ou influência católica. A institucionalização tragou esse pessoal e o vácuo foi ocupado pelos religiosos conservadores, que não dispensam o auxílio de facções e bandos criminosos nas comunidades mais pobres. Sobraram alguns abnegados, como o padre Júlio Lancelotti, cujo prestígio é merecido, mas também se deve à sua pregação em terreno quase desértico.

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  5. Muito bem lembrado, Sergio. Sintomático disso é que o PT sempre foi acusado de aliado de algumas facções, mas, pela minha experiencia pessoal com alguns presidiários, as facções só respeitam os pentecostais. Quando o bandido é preso e não quer fazer parte de uma facção, a única solução é se abrigar no evangelho, pra proteger, se não a si mesmo, ao menos a família. Não sei como é a experiencia em outros estados (e nem sei se isso é dominante nos presídios do Maranhão - demandaria um estudo mais amplo).

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  6. Não tenho muita familiaridade com a vida prisional, mas pelo que me falam é essa a lógica por aqui, também, no Sudeste, e alhures. Você fez ou faz esse tipo de trabalho?

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  7. Não. Apenas tenho clientes que relatam.

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