Doses maiores

14 de novembro de 2018

As incríveis contradições da “universidade com partido” chinesa

Nas últimas semanas, pelo menos 12 estudantes universitários em cinco cidades chinesas foram detidos pelo governo. Seu crime? Promover manifestações em favor de direitos dos trabalhadores, como liberdade de organização sindical e melhores condições de trabalho.

O curioso é que os acusados se reivindicam marxistas e foram inspirados pelas obras de Marx que estudam em sala de aula. O ensino do marxismo é obrigatório nas universidades chinesas. Uma espécie de “universidade com partido” oficializada.

Além disso, nas comemorações pelo 200º aniversário de Marx, o presidente Xi Jinping afirmou que o revolucionário alemão estava “totalmente correto”.

Tudo muito contraditório, sem dúvida. Mas nada que deveria surpreender em um país cujo regime político continua se afirmando comunista, ao mesmo tempo em que sua economia tornou-se fundamental para o equilíbrio do capitalismo mundial.

Além disso, há certa coerência no que disse Jinping. Muito do que aconteceu no capitalismo global nas últimas décadas dificilmente pode ser explicado sem auxílio da teoria econômica marxista. Não à toa, as obras de Marx voltaram às livrarias no mundo todo.

O problema é que Marx nunca foi apenas um teórico. Se não existe prática revolucionária sem teoria revolucionária, o oposto também é verdadeiro. E os estudantes entenderam isso muito bem. Para azar deles, mas também do governo chinês.

Tudo isso, porém, pode ser apenas uma advertência. No país que tem a maior classe operária de todos os tempos, é razoável a chance de que seus membros construam seu próprio marxismo. Na periferia das universidades, mas no centro da luta de classes.

Seria um desastre para o regime chinês. Uma esperança para a humanidade.

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