Doses maiores

5 de dezembro de 2018

Coletes amarelos: sem essa de check-list ideológico

Os coletes amarelos estão nas ruas francesas quebrando e queimando tudo. Protestam contra o aumento do preço do diesel, muito utilizado em veículos leves na França. O governo Macron alega que a medida visa desestimular o uso de combustíveis sujos.

Não é bem assim. Nuno Ramos de Almeida em artigo publicado no portal Outras Palavras explica que o presidente francês cortou 4 bilhões de euros de impostos aos mais ricos e 41 bilhões em taxações para grandes empresas e multinacionais. Também diminuiu em 10 bilhões os tributos sobre capitais. Enquanto isso, o diesel ficou mais caro para trabalhadores que dependem dele para se deslocar ou trabalhar.

Tudo indica que o movimento é semelhante às manifestações de 2013 no Brasil. Motins cuja orientação ideológica precisa ser disputada.

Artigo de Rosana Pinheiro-Machado, disponível no The Intercept, discute a dificuldade das esquerdas em lidar com movimentos desse tipo:

...a esquerda precisa disputar, primeiro o que é possível: indivíduos, redes e inserções. Quando os motoristas de aplicativos pararem – porque isso um dia deve acontecer –, e o Brasil entrar num novo surto de “o que está acontecendo?”, seria mais inteligente não exigir carteirinha de “bom trabalhador” nem check-list de entrada no clube ideológico. Os trabalhadores precarizados tendem à direita pela própria natureza injusta e individualista de seu trabalho, mas isso não elimina a injustiça que está lá de forma latente. O populismo de direita, esse sapo medonho, se veste de príncipe, não escolhe militante, estende a mão e acolhe. Uma grande parte de nós tem feito o oposto: rechaçado, ridicularizado e tachado tudo aquilo que não compreende.

Fica a dica.

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2 comentários:

  1. Como ocorreu também este ano no Brasil com a greve dos caminhoneiros.

    Obrigada pela pílula.

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