Doses maiores

12 de dezembro de 2018

Gramsci explica o que é ser marxista

Karl Marx não é para nós nem a criança que geme no berço nem o terror barbado dos sacristãos. Não é nenhum dos episódios anedóticos de sua biografia, nenhum gesto brilhante ou grosseiro de sua animalidade humana exterior. É um cérebro vasto e sereno que pensa, um momento único da busca laboriosa e secular que a humanidade faz para se conscientizar de seu ser e de sua mudança, capturar o misterioso ritmo da história e dissipar seu mistério, ser mais forte em pensar e fazer. É uma parte necessária e integrante do nosso espírito, que não seria o que é se Marx não tivesse vivido, pensado, rasgado faíscas de luz com o choque de suas paixões e suas ideias, suas misérias e seus ideais.

O trecho acima é de um artigo escrito por Antonio Gramsci em 1918 para o centenário de nascimento do grande revolucionário.

O texto começa perguntando: “Somos marxistas?”. Uma pergunta, diz ele, cujas possíveis respostas consumirão “rios de tinta e estupidez”. Mas para enfrentar essa questão de modo adequado, afirma, o mais importante é entender que “Marx não escreveu um evangelho”. Que ele:

...não é um messias que deixou uma série de parábolas carregadas de imperativos categóricos, regras absolutas e indiscutíveis, fora das categorias de tempo e espaço. Seu único imperativo categórico, sua única norma é: "Proletários do mundo todo, uni-vos". Portanto, a diferença entre marxistas e não marxistas teria que consistir no dever de organização e propaganda, no dever de organizar e associar-se. Demais e muito pouco...

É o básico e o fundamental. É só o começo, mas indispensável.

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