Doses maiores

18 de abril de 2019

Um messias sem amigos influentes

No livro “Matadouro 5”, Kurt Vonnegut o personagem principal viaja no tempo, pelas galáxias e faz contato com extraterrestres. Num deles, o ET queria saber “por que é que era tão fácil para os cristãos serem cruéis”. Ele mesmo estudou o caso e concluiu que pelo menos parte do problema estava no modo como o Novo Testamento era narrado.

O defeito das histórias de Cristo, disse o visitante intergaláctico, era que:

Cristo, cuja aparência não era lá essas coisas, era, na realidade, Filho do Ser Mais Poderoso do Universo. Os leitores compreendiam isso, de modo que, quando chegavam à crucificação, pensavam (...): — Puxa vida, daquela vez pegaram o sujeito errado para linchar.

E essa ideia levava a um outro pensamento: "Existe gente certa para linchar". Quem? Gente sem amigos influentes...

Foi então que o extraterrestre deu de presente à Terra um novo Evangelho. Na versão do ET, Jesus realmente era um joão-ninguém que “disse todas aquelas coisas lindas e enigmáticas que dizia nos outros Evangelhos”. Mas também “aporrinhava um bocado de gente com amigos mais influentes do que ele”. De modo que um dia esse pessoal resolveu “se divertir pregando-o à cruz”. O problema é que:

...pouco antes do joão-ninguém morrer, os céus se abriram e houve trovões e relâmpagos. A voz de Deus ribombou do firmamento. Disse ao povo que estava adotando aquele vagabundo como filho, dando-lhe plenos poderes e privilégios de Filho do Criador do Universo, por toda a eternidade. Deus falou assim: “Deste momento em diante, Ele castigará de forma horrível todo aquele que atormentar um vagabundo sem amigos influentes!”

Que assim seja!

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