Doses maiores

1 de dezembro de 2023

A autossabotagem soviética

Na Rússia do início do século passado, a equivocada fé nos poderes da ciência e da tecnologia era compartilhada inclusive pelos bolcheviques, diz Gavin Mueller, em seu livro “Breaking Things at Work”.

Importante integrante da vanguarda revolucionária e marxista respeitado, Nikolai Bukharin escreveu que o “modo histórico de produção (...) é determinado pelo desenvolvimento das forças produtivas, ou seja, pelo desenvolvimento da tecnologia”. O problema é que Marx jamais reduziu o conceito de forças produtivas à tecnologia.

Já Lênin, ansioso por aumentar a produtividade na nascente União Soviética, defendia combinar o poder soviético com conquistas do capitalismo como o taylorismo. Em oposição a ele, Alexandre Bogdanov, outra grande liderança bolchevique, acreditava que o taylorismo minaria os objetivos da revolução, forçando os trabalhadores a tarefas repetitivas que causariam a atrofia de suas capacidades críticas e criativas.

Para Stalin, desenvolvimento industrial era sinônimo de socialismo. Outra simplificação grosseira do marxismo, mas que acabou se tornando política de estado, gerando desdobramentos desastrosos como a ideologia stakhanovista, de produção a qualquer custo. Não faltaram protestos, resistência e sabotagens dos trabalhadores alegando que os ideais da Revolução Bolchevique, como a limitação da jornada de trabalho e condições dignas de produção, seriam minados pela devoção fanática ao trabalho.

A adoção de técnicas, métodos e tecnologias capitalistas beneficiaram a economia soviética por algum tempo. Mas foi incapaz de enfrentar a concorrência imposta pela exploração desenfreada promovida pelo capitalismo de mercado.

O regime stalinista chamava a resistência dos trabalhadores nas fábricas de sabotagem contrarrevolucionária. Mas, ao mimetizar a produção capitalista,  o modelo produtivo soviético foi o maior responsável por seu próprio fracasso.

Leia também: A sabotagem como economia política dos trabalhadores

3 comentários:

  1. Alexandre Bognanov e Roger waters estavam certos!!!

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  2. Muito reducionismo mesmo o famigerado desenvolvimento das forças produtivas como sendo das máquinas e tecnologia.

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