Doses maiores

12 de setembro de 2019

5G: a internete das coisas e de seu fetichismo

Baixar filmes em um segundo. Cirurgias realizadas em pacientes localizados em outro continente. Veículos deslocando-se de maneira perfeitamente sincronizada, dispensando condutores, semáforos, radares.

No lugar de smartphones, lentes de contato conectadas. Óculos que borrarão os limites entre o virtual e o real. Tecnologias que poderemos vestir, implantar ou tatuar.

Tudo isso e muito mais deve ser possível com a chegada da 5G, a quinta geração da telefonia digital. Talvez, a última que utilizará celulares. A partir dela, quase tudo se comportará como um deles.

O acesso à internete deixará de se limitar apenas a alguns tipos de terminal. Poderemos interagir até com postes, hidrantes e lixeiras.

E, aí, surgem os problemas. Surgem, não. Se agravam.

O objetivo até poderia ser nobre. Salvar muitas vidas, diminuir o infernal deslocamento urbano, permitir lindas viagens culturais e históricas virtuais.

Quem sabe, possibilitar a realização de grandes assembleias e congressos com todas as vantagens da participação presencial sem necessidade de deslocamentos caros ou inconvenientes.

Mas a 5G exige muito mais antenas. Mais infraestrutura. Mais dinheiro. E estará realmente disponível para quem controla o dinheiro ou esteja perto dele.

É por isso que ela é chamada de internete das coisas. A 5G poderia colocar as coisas a serviço das pessoas. Mas, muito provavelmente, serão as pessoas que servirão às coisas.

É mais uma volta no velho parafuso do fetichismo da mercadoria, metáfora que Marx criou para uma sociedade onde são as coisas, transformadas em mercadoria, que têm vida social, não as pessoas.

Afinal, é de obter mais lucros que se trata.

A 5G é só a enésima geração dessa feitiçaria opressora.

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