Doses maiores

23 de setembro de 2019

Washington e a política dos passeadores de cachorro

A jovem Alexandria Ocasio-Cortez, do Partido Democrata, surgiu como uma nova liderança nas eleições do ano passado. Um sopro de ar fresco na atmosfera poluída da política estadunidense.

Nove meses após sua posse, já não é bem assim. Pelo menos, é o que diz recente matéria publicada no New York Times, segundo a qual Alexandria estaria aprendendo a “jogar pelas regras de Washington”.

A deputada e sua equipe chegaram ao Congresso decididos a respeitarem mais a vontade das ruas que a dos chefes de seu partido.

Entre as propostas inovadoras que lideraram, está, por exemplo, o “New Deal Verde”, um pacote de medidas para combater as mudanças climáticas e as desigualdades econômicas.

O problema é que o velho cretinismo parlamentar não demorou a se impor.

Até agora, os veteranos tiveram paciência, afirma Alexandria: “Podiam ter me colocado na Comissão de Passeadores de Cachorro”. Mas o fato, diz a reportagem, é que:

...a abordagem que ela e seus aliados defendem – de empurrar a instituição para a esquerda, ameaçando as carreiras de democratas que não abracem suas ideias – afastou muitos de seus colegas, dificultando sua tarefa de tirar as coisas do papel.

Desse modo, Alexandria admite estar passando por um processo de “perda de inocência e ingenuidade”, percebendo ser “impossível separar o trabalho no Congresso e a política envolvida nas campanhas à reeleição”.

Rosa Luxemburgo dizia que quando os socialistas acham que estão mudando o Estado, é o Estado que está mudando os socialistas.

Ocupar assentos no parlamento, sim. Mas tentar empurrá-lo para a esquerda por dentro dele... Só vai sobrar a Comissão dos Passeadores de Cachorro, mesmo.

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