Doses maiores

10 de setembro de 2019

Inteligência artificial e trabalho fantasma

A Inteligência Artificial criou uma nova categoria de explorados. São os trabalhadores fantasmas. É disso que trata recente artigo de Alfredo Moreno, professor da Universidad Nacional de Moreno, na Argentina.

São chamados assim porque quase ninguém sabe que são eles que realizam certas tarefas atribuídas à inteligência artificial.

Sua atividade é a “computação humana”, técnica que atribui a grupos de pessoas a realização de certos passos do processo computacional que as máquinas não fazem bem.

Um exemplo é a Netflix, cujo imenso catálogo necessita da intervenção humana para classificar milhares de séries, filmes, programas de TV. Outro exemplo são os tradutores automáticos, que empregam pessoas com formação em linguística e idiomas.

Outra modalidade de “computação humana” consiste “em propor atividades, desafios e problemas a quantidades massivas de colaboradores externos para que os solucionem em troca de algum benefício”.

Esses “voluntários” participam dos processos sem se dar conta de que a verdadeira intenção é baratear mão de obra.

Como diz Moreno, são “microtarefas” desempenhadas “em troca de micropagamento”. Obviamente, proporcionando megalucros do outro lado.

Tudo isso até que as pessoas sejam descartadas graças a avanços da inteligência artificial que elas mesmas estão ajudando a desenvolver.

O fator comum a esses trabalhos, diz o artigo, é que eles:

...estão à sombra, sem definição e oculta aos consumidores (cidadãos) que se beneficiam dela, propiciando as condições para um trabalho sem direitos praticamente pré-capitalista.

Ou seja, é mais uma modalidade de exploração que remete aos traços neofeudais que muitos enxergam na atual onda de precarização generalizada do trabalho humano.

É a uberização em versão fantasmagórica. Assustador.

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