Doses maiores

24 de setembro de 2019

O quinto cavaleiro do apocalipse nivelador

Em seu livro “A Grande Niveladora”, Walter Scheidel afirma que a violência enquanto fator de nivelação social se manifestaria na história humana como quatro cavaleiros do apocalipse: guerras, epidemias, colapso estatal e revoluções.

Mas no final da obra, o autor afirma que esses quatro cavaleiros já não têm tanto poder.

No mundo atual, as guerras, além de estarem reduzidas a conflitos regionais, tornaram-se mais robotizadas e a cargo de exércitos menores, compostos por mercenários. Dependem muito menos do alistamento em massa.

As epidemias dificilmente causariam o efeito devastador demonstrado antes da modernidade. Os colapsos dos Estados também teriam ficado no passado mais distante. E, finalmente, as revoluções estariam fora de nosso horizonte histórico.

O problema é que o autor não apresenta qualquer evidência de que meios menos traumáticos possam tomar o lugar desses episódios niveladores.

Por outro lado, jamais na história humana a desigualdade social chegou aos extremos atuais. Em cifras absolutas pode haver menos violência, miséria, mortes e doenças. Mas em termos relativos, nunca tão poucos detiveram o controle de tanta riqueza. Nunca tantos tiveram seu destino decidido por tão poucos.

Tudo isso poderia ser apenas o fracasso de um projeto civilizacional baseado na justiça social universal. Mas também é resultado de uma determinada relação que estabelecemos com o restante da natureza.

É aí que surge um quinto cavaleiro do apocalipse. Um personagem que Scheidel não cita em seu livro. É o colapso ambiental. Sua montaria vem a todo galope, açoitada pela vocação destruidora e suicida do capitalismo. E em seu rastro, pode não restar nada mais do que terra arrasada. Nivelada.

Continua...

Leia também: As revoluções transformadoras e o achatamento social

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