Doses maiores

10 de novembro de 2023

Elis, Lennon e a inteligência espírita

No início de novembro, foi lançada a mais recente música dos Beatles. Com ajuda da inteligência artificial, John Lennon participou da gravação, 43 anos após sua morte. Pouco tempo atrás, Elis Regina estrelou um anúncio publicitário. A greve dos atores de Hollywood terminou recentemente com um acordo que inclui proteção contra manipulações tecnológicas das imagens dos artistas após sua morte.

Nas décadas finais do século passado, uma família de espíritas fazia sucesso na TV. Um de seus membros recebia espíritos de artistas como Monet, Rembrandt e Picasso, pintando quadros fiéis ao estilo de cada um deles.

Esses pintores passaram por várias fases de criação, durante suas vidas. Mas suas manifestações pós-morte permaneciam presas ao modo de pintar que haviam desenvolvido até o momento em que morreram. Afinal, ainda que fossem indivíduos geniais, sua arte era resultado do contexto social e histórico em que viviam. Das interações com fatos e pessoas que eram seus contemporâneos. Experiências que já não estavam a seu alcance no além-vida.

Pois bem, muito pouco da genial criatividade de Lennon e Elis ou do talento dos trabalhadores da indústria audiovisual permanece viva em suas respectivas ressurreições tecnológicas. A inteligência artificial não passa da mais nova encarnação da velha apropriação capitalista do trabalho vivo para transformá-lo em trabalho morto. Trata-se de sepultar a criatividade que resulta das relações humanas em ataúdes tecnológicos feitos para proporcionar mais lucros a poucos, em prejuízo do bem-estar e da dignidade da grande maioria.

A inteligência artificial só é capaz das façanhas que testemunhamos hoje porque desde seu nascimento o capitalismo vem sequestrando e matando a criatividade humana.

Leia também: Inteligência artificial e perfídia capitalista

2 comentários:

  1. Gostei muito do título desta Pílula, ri antes de ler. Deixa manter o espírito engraçado do titulo: o capitalismo não perdoa nem os mortos, explora seu trabalho vivo pós morte, em trabalho vivo pró capital.

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    1. Isso. E vai necrosando o trabalho quando ainda está vivo.

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