A campanha pelo fim da escala de seis dias de trabalho por um de descanso (6x1) está bombando. Criada pelo vereador Rick Azevedo (PSOL-RJ) foi encampada pela deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), que está tentando transformá-la em Proposta de Emenda à Constituição.
A proposta faz parte do movimento liderado por Azevedo, chamado Vida Além do Trabalho (VAT). Os operários do século passado tinham seu próprio VAT. Lutavam pelas 8 horas diárias de trabalho. Dessa maneira, sobrariam 8 horas para descanso e 8 horas para educação, conscientização e organização.
Mas a ocupação estafante e criadora de valor para o capital nunca se resumiu às horas exploradas pelos patrões, através de vínculos formais ou não.
Vida além do trabalho também são as ocupações domésticas, cujo principal objetivo é garantir a reprodução e manutenção da força de trabalho a ser explorada pelos patrões.
Vida além do trabalho é a destruição da natureza, provocando imensos prejuízos ambientais para a grande maioria, gerando enormes lucros para uma ínfima minoria.
Vida além do trabalho era a escravização humana nas antigas colônias e a atual precarização nas periferias do mundo, assegurando ganhos astronômicos para o grande capital.
Essas e outras esferas vitais são canibalizadas pelo grande capital para além de qualquer limite, sem qualquer contrapartida, reposição, compensação, tributação. Depois do trabalho, o que sobra não chega a ser vida.
Não há vida que escape à infinita e voraz gula do capital. É o que ensina, por exemplo, Nancy Fraser, ao mostrar em seu recente livro “Capitalismo canibal”, como é urgente matar o capitalismo de inanição. Voltaremos a comentá-lo, em breve.
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Sim, sabemos que muito do que se chama de trabalho já se transformou em autônomo, precarizado, portanto, livre de qualquer regulamentação, mas é importante abrir essa frente de luta em relação ao trabalho regularizado pela CLT. Enfim, uma grande e importante luta, dela, pelo menos, podemos ter um referencial para outras lutas em defesa do trabalho.
ResponderExcluirEsse assunto merece reflexão mesmo. Na minha opinião, estamos vivendo uma época semelhante à consolidação do capitalismo, na qual a luta trabalhista era centrada em descanso apenas (que se seguiu a alguns direitos). Semelhante? Sim, quase igual. Se a esquerda botar um bom óculos, verá que as condições materiais para a revolução estão aparecendo como bestante semelhança ao contexto do começo do século passado. Entretanto, há diferenças fundamentais e preocupantes: o capitalismo não precisa mais do operário. Vai jogá-lo na vala comum do ócio (dos streaming e dos TikToks) e, com isso, afogá-lo na bestialização do conformismo da renda básica universal... E não pense que no capitalismo totalitário da China é diferente. É apenas menos beligerante e humanizado... (att. Jorge - não estou conseguindo logar)
ResponderExcluirConcordo com quase tudo, Jorge. Realmente o capitalismo já não precisa do operário. Mas, provavelmente, sempre precisou muito mais do proletário do que do operário, que sempre foi uma parte meio minoritária do proletariado. O fato é que sob o capitalismo exploração não vai ter fim e deve piorar muito ainda. Abraço!
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