A França está de pernas para o ar. Trabalhadores de várias categorias paralisam o país contra a reforma da previdência proposta por Sarkozy. Principalmente, contra o aumento da idade mínima para aposentadoria de 60 para 62 anos.
Além deles, milhares de jovens desafiam a polícia em vários lugares do país. Usam paus e pedras. Incendiaram uma escola, destruíram automóveis, quebraram lojas e equipamentos urbanos.
As autoridades dizem que se trata de desordeiros. Ainda que fosse verdade, isso não responde a uma questão: por que jovens se envolvem em algo que afeta diretamente apenas os mais velhos, com empregos regulares?
Talvez uma parte da resposta esteja na marginalidade que atinge as duas pontas da vida humana sob o capitalismo. A juventude e a velhice se tornam cada vez mais descartáveis.
Reformas da previdência vêm sendo feitas há décadas em várias partes do mundo. A desculpa é uma só. As pessoas estão vivendo mais. Aposentam-se no auge da vida produtiva. Como se vida produtiva e vida humana fossem uma só. Como se a enorme maioria dos trabalhadores não estivesse louca para se livrar de suas ocupações cansativas, doentias, chatas e mal pagas.
Enquanto isso, os jovens atolam suas vidas num limbo. Ficam entre uma infância mal acabada e a vida adulta adiada pela falta de uma ocupação profissional. Anseiam por entrar no mundo do trabalho, do qual lutarão para sair pela estreita porta da aposentadoria.
Somos cada vez mais parecidos com animais criados para o abate. Só importa o período em que damos bons cortes. Mas, quando a revolta explode, boi é uma coisa, estouro da boiada é outra.
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