Doses maiores

20 de novembro de 2016

A raiva que elegeu Trump

Em 08/11, o Portal Outras Palavras publicou entrevista com a socióloga estadunidense Arlie Russell Hochschild.

Ela é autora do livro “Strangers in their Own Land: Anger and Mourning on the American Right’ (“Estrangeiros em sua própria terra. Raiva e luto na direita americana”). A obra surgiu de quatro anos de convivência com moradores brancos e pobres no interior da Luisiana. Gente que muito provavelmente votou em Trump.

Para esses segmentos sociais, diz a socióloga, realizar o “sonho americano” da prosperidade compara-se à espera em uma longa fila que não só teria parado de andar, como estaria sendo cortada por “fura-filas”. Mais precisamente, pelos beneficiários de políticas afirmativas, como negros, indígenas, hispânicos...

É assim que as razões econômicas pelas quais a fila não anda são ignoradas em nome do conservadorismo mais rasteiro. É essa percepção distorcida pela ideologia dominante que reina nos milhares de comunidades americanas como a estudada por Arlie.

O outro lado desse acanhamento ideológico é o estreito funil do sistema político americano. Se os brancos pobres acreditam que a fila da prosperidade vem sendo retardada por pretensos favorecimentos a “minorias”, estas últimas são desestimuladas ou impedidas de entrar nas filas de votação.

O processo eleitoral americano é tão habilmente controlado pela minoria branca e rica que a impossibilidade de os mais pobres serem minimamente representados aparece como uma questão a ser resolvida entre eles mesmos.

Enquanto explorados e oprimidos, brancos ou não, brigam raivosamente entre si por um lugar numa fila paralisada, o grande capital troca de gerentes sem maiores problemas.

E ainda dizem que é o Brasil que não é para amadores.

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