Doses maiores

23 de novembro de 2016

Ficar à esquerda para escolher qual direita apoiar

Na Revolução Francesa, os partidários da volta da monarquia sentavam-se à direita na Assembleia Nacional. Já os que lutavam por justiça social, ocupavam os assentos da esquerda.

Depois disso, esquerdistas passaram a ser os que lutam por uma sociedade socialista. Entre eles, uns defendem mudanças radicais, outros advogam um caminho feito de reformas graduais. Mas, revolucionários ou reformistas, todos seriam de esquerda.

A partir dessa ideia, seria possível diferenciar aqueles que são de esquerda daqueles que estão à esquerda? Por exemplo, ninguém duvida que Obama está à esquerda de Trump. O mesmo valeria para o Papa Francisco e João Paulo 2º ou para o Syriza e os socialdemocratas gregos.

Mas...

Obama passou dois mandatos liderando forças armadas que massacram milhares de inocentes diariamente nas regiões mais pobres do mundo. Bergoglio continua a chefiar uma das instituições mais conservadoras da história humana.

O Syriza, uma vez eleito, aceitou uma trégua para seu governo que foi uma derrota para os pobres e explorados que o elegeram. Nem falemos do partido de Lula, cujo governo foi derrubado quando se empenhava em aprovar as medidas de austeridade defendidas pela oposição.

Ou seja, parece que a esquerda institucional abandonou definitivamente a luta por reformas populares. Optou por contrarreformas que lhe garantam uma “governabilidade” que, de fato, é do capital. Exemplos claros são a legislação “antiterrorista” aprovada pelo governo petista e as medidas neoliberais defendidas pelo Syriza.

Uma tentativa interessante de explicar essa situação foi feita por Felipe Demier com seu conceito de “Democracia blindada”. Um regime político no interior do qual ficar à esquerda é escolher qual setor da direita apoiar.

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