Doses maiores

30 de junho de 2017

Em busca de um futuro comunista, no passado


Em 19/06, Nuno Ramos de Almeida publicou “Em busca da comunidade futura”, no portal Outras Palavras. O artigo destaca a importância da “culturas e identidades operárias” na criação de grande parte das alternativas políticas do século passado na Europa e Estados Unidos. Como exemplo, relata um episódio ocorrido em Portugal, em plena ditadura salazarista:

A 30 de janeiro de 1938 defrontaram-se no Estádio Nacional do Jamor as seleções de Espanha e Portugal. Durante os hinos, os dignitários fascistas na tribuna, a multidão e os jogadores fizeram a saudação nazi. Todos? Não, quatro jogadores portugueses recusaram fazer o gesto. Artur Quaresma deixou os braços em baixo. Mariano Rodrigues Amaro e José Ribeiro Simões levantaram, desafiantes, o punho esquerdo, e o goleiro, João Mendonça e Azevedo, juntou-se à contestação. No final do jogo foram detidos pela polícia política de Salazar. Artur Quaresma, tio-avô de Ricardo Quaresma, explicou em 2004 ao jornal Record porque se recusou a fazer a saudação fascista: “Tinha muitos amigos comunistas e oposicionistas, por isso foi uma atitude natural, embora não planejada.” Apesar de terem sido presos pela PIDE, foram libertados em pouco tempo, dado o apelo da direção do clube. Numa conversa, Quaresma acrescentou outra razão de fundo para a coragem dos quatro destemidos jogadores contra tudo e contra todos. Ao que parece, todos eles eram do Barreiro. Apanhar da polícia era tenebroso, mas viver na vila operária com o ônus de ter feito a saudação fascista e ter dobrado a espinha era muito pior.

Ou seja, é preciso buscar no passado das lutas libertárias a coragem para construir um futuro verdadeiramente comunista.

Leia também: Tchau não, Vito. Ciao!

Um comentário:

  1. Bonito relato. Me encantam atitudes de grandeza e rebeldia sempre. Quando elas surgem em locais pouco comuns mais ainda. Sei que não são poucas atitudes como essa no futebol, mas
    sempre gosto. Pena que não conheço nenhuma do meu time, o Palmeiras; aliás, no seu início só tem coisas ruins. Mas, fazer o quê, no momento em que fazemos nossas escolhas não temos consciência de classe. Depois... ah depois em coisas que não ferem nossos princípios a gente continua gostando.

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