Doses maiores

9 de junho de 2017

Lênin sentia sono quando lia Maiakóvski

“Várias vezes tentei ler Maiakóvski e nunca pude ler mais que três versos: sempre durmo”. Esta frase de Lênin está na pequena e brilhante biografia de Trotski, escrita por Paulo Leminski.

Segundo o poeta paranaense, a vanguarda artística russa do começo do século foi importantíssima. Maiakóvski é considerado o grande representante dessa arte revolucionária, mas havia pintores como Chagall e Maliévitch; escritores como Górki e Bábel; e os cineastas Eisenstein e Djiga-Viértov.

Movimentos como o futurismo, cubismo, suprematismo também deveram muito à ebulição revolucionária russa. Neste contexto, diz Leminski, surgiu, por um momento, “a miragem da fusão revolução artística/revolução política”. Seriam “uma nova arte para um novo mundo, novas linguagens para uma nova vida”.

Infelizmente não foi isso que aconteceu. “Maiakóvski suicidou-se em 1930. Eisenstein acabou domesticado, fazendo filmes patrióticos. Meyerhold desapareceu, depois de preso pela polícia de Stálin”, afirma o autor. A partir daí, passaram a ser permitidas apenas as manifestações artísticas chanceladas pelo Estado.

Frente a essa situação, parece a Leminski que a “inovação artística se dá muito bem nas temperaturas revolucionárias. Mas fenece quando os regimes se consolidam”.

Mas esta regra também poderia se aplicar a outras “inovações” revolucionárias. Os enormes avanços na emancipação feminina e liberdade sexual conquistados pela Revolução também se perderam ao longo do caminho. 

Culpar exclusivamente a contrarrevolução stalinista não basta. Lênin e Stálin eram muito diferentes. Um sentia sono diante da arte de vanguarda. O outro jogava seus artistas nas prisões. Mas ambos participaram do processo que se dobrou ao pragmatismo econômico da acumulação capitalista.

Antes, como agora, vale a palavra-de-ordem: “A gente quer comida, diversão e arte.”

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