Doses maiores

21 de novembro de 2017

A vodca como força política

Em seu livro “O Ano I da Revolução Soviética”, Victor Serge dá destaque à questão do alcoolismo no início do período revolucionário.

Por um curto período, a contrarrevolução certamente imaginou que havia descoberto sua arma mais letal sob a forma do alcoolismo. O plano assustador, concebido em círculos clandestinos e que pretendia afogar a revolução na bebida antes de afogá-la em sangue transformando-a num tumulto de multidões bêbadas, chegou a ser executado seriamente. Em Petrogrado havia adegas fartamente abastecidas com vinho e lojas repletas de licores finos. A idéia de saqueá-las logo surgiria na multidão – mais exatamente, foi incentivada. Grupos frenéticos passaram a invadir as adegas de palácios, restaurantes e hotéis. Era uma loucura contagiosa. Tropas de guardas vermelhos, marinheiros e revolucionários foram destacadas especialmente para combater este perigo.

Em 2 de dezembro, foi preciso criar, em Petrogrado, uma Comissão Extraordinária Especial com plenos poderes para combater a praga. Foram impostas medidas draconianas: saqueadores de depósitos de vinho foram fuzilados sem vacilação. Em um discurso no soviete, Trotsky observou:

“A vodca é uma força política tanto quanto a palavra. É a palavra revolucionária que leva os homens a lutar contra seus opressores. Se não conseguirmos barrar o caminho que leva aos excessos na bebida, tudo o que restará para nossa defesa serão carros blindados sem tripulantes. Lembrem-se: cada dia de embriaguez aproxima o outro lado da vitória e da velha escravidão”.

“Em uma semana, o mal estaria sob controle”, diz Serge. Mas o alcoolismo jamais deixou de ser epidêmico na Rússia, antes, durante e após o período soviético. Talvez, nem sempre tenha sido tão contrarrevolucionário.

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