Doses maiores

22 de janeiro de 2018

Quando nem a dialética de Lênin funciona

Em seu livro “Reconstruindo Lênin”, Tamás Krausz mostra a situação extremamente contraditória em que se encontrava o Estado soviético alguns anos após sua criação.

Uma confusão tão grande que levou Lênin a cometer alguns malabarismos teóricos para apontar rumos para sua superação.

Em janeiro de 1921, por exemplo, ele escreveu o artigo “A crise do partido”, descrevendo o Estado soviético desse modo:

O Estado operário é uma abstração. De fato nós temos um Estado operário, 1º, com a particularidade de que não é a população operária mas a população camponesa que predomina no país; e 2º, um Estado operário com uma deformação burocrática.

Anteriormente, em “Os sindicatos, a atual situação e os erros de Trotsky”, de 1920, Lênin já havia afirmado:

...num estado que se formou em tais condições concretas, os sindicatos nada têm a defender? Pode-se dispensá-los da defesa dos interesses materiais e morais do proletariado organizado? Seria um raciocínio completamente falso, do ponto de vista teórico. Um raciocínio que nos levaria ao domínio da abstração ou do ideal que atingiremos daqui a quinze ou vinte anos, sendo que, além do mais, não estou seguro de que o atingiremos nesse prazo (...). Nossa situação é tal, que o proletariado deve utilizar suas organizações para defender-se contra seu próprio estado, ao mesmo tempo em que o defende.

Em outras palavras, diz Tamás, os trabalhadores devem confrontar o estado, mas, ao mesmo tempo, defendê-lo juntamente com todas as suas instituições. Não há uma solução dialética para tal contradição.

Quando nem toda a capacidade dialética de um Lênin basta, difícil não esperar pelo pior.

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