Doses maiores

12 de abril de 2021

As mulheres iroquesas e o bafo da civilização

A última pílula comentava como Marx ficara impressionado com o poder das mulheres entre os iroqueses. Tais observações aparecem nos chamados “Cadernos Etnológicos”, que reúnem anotações sobre vários estudos antropológicos.

Veremos mais sobre essa questão no relato abaixo, retirado do artigo “Karl Marx and the iroquois”, de Franklin Rosemont.

Na verdade, entre os iroqueses, qualquer decisão final era tomada pelo Conselho de Chefes, inteiramente masculino. Mas às mulheres era permitido nomear um orador para expressar suas opiniões junto ao conselho e aprovar a nomeação de novos chefes.

Parece pouco, mas trata-se de “um grau de envolvimento social muito além do desfrutado pelas mulheres (ou homens!) de qualquer nação civilizada”, diz Marx. Afinal, ele está escrevendo em 1883. Nessa época, poucos países contavam com o sufrágio masculino universal e o voto feminino só começaria a ser respeitado amplamente muitas décadas depois.

Segundo Rosemont, essa tendência igualitária entre os sexos aparecia em registros referentes a várias outras sociedades ditas “primitivas”. Essa característica interessava muito a Marx. Afinal, quando jovem, ele escreveu em “A Sagrada Família” que a melhor forma de medir o progresso de qualquer sociedade é verificar o grau de liberdade e poder com que contam suas mulheres.

É por isso que ele argumenta em uma de suas anotações que "as comunidades primitivas tinham vitalidade incomparavelmente maior do que as sociedades semíticas, gregas, romanas e, posteriormente, as sociedades capitalistas". Acrescentando, ainda, que a sociedade iroquesa era muito mais elevada do que qualquer uma das sociedades "envenenadas pelo hálito pestilento da civilização".

Infelizmente, são essas últimas sociedades que continuam a prevalecer, sem nada perder de seu bafo insuportável.

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3 comentários:

  1. Esse Marx era verborrágico mesmo, "envenenadas pelo hálito pestilento da civilização" é bom demais.

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    1. Este texto que estou comentando fala sobre essa verve literária do Marx. Vou ver se faço uma pílula sobre isso

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  2. Não conhecia nada das mulheres iroquesas. Muito interessante!

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