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24 de janeiro de 2022

A revolução permanente dos povos colonizados

“Na década de 1850, Marx já antevia a possibilidade de que as lutas de classes nas colônias asiáticas (China e Índia em especial) tivessem impacto decisivo no processo da revolução proletária europeia”. A afirmação é de Marcelo Badaró, em seu livro “A classe trabalhadora: de Marx ao nosso tempo”.

Além disso, destaca novamente Badaró, em “O capital”, o revolucionário alemão afirmou taxativamente que “o trabalho de pele branca não pode se emancipar onde o trabalho de pele negra é marcado a ferro”.

Esses elementos mostram o equívoco da ideia de uma classe trabalhadora europeia, branca, masculina e reunida em fábricas como única capaz de protagonizar processos revolucionários.

A própria Revolução Bolchevique foi uma grande refutação prática dessa concepção. Na Rússia czarista, o campesinato era a enorme maioria da população. O capitalismo apresentava-se em um nível de desenvolvimento muito inferior ao do britânico, francês e alemão. Ainda assim, uma revolução socialista foi possível graças à utilização criativa do conhecimento acumulado por décadas de lutas dos explorados contra o capitalismo nos mais diferentes países.

Um dos principais responsáveis por isso foi Leon Trotsky, cuja teoria do desenvolvimento desigual e combinado procurava entender a dicotomia entre centro e periferia do sistema capitalista em sua etapa imperialista. Um esforço teórico que permitiu entender o processo russo como uma revolução permanente que pulou etapas, da autocracia à república soviética.

Também foi essa elaboração que levou, por exemplo, o marxista peruano José Carlos Mariátegui a perceber a especificidade das realidades latino-americanas e propor uma potencialidade revolucionária do elemento indígena nas lutas socialistas, ainda nos anos 1920.

Voltaremos a Mariátegui na próxima pílula.

Leia também: A origem heterogênea e multiétnica do proletariado

2 comentários:

  1. Sabe, eu não me preocupo muito se Marx tenha colocado ou não, muito ou pouco, na sua teoria as lutas antirrascistas, anticoloniais, feministas etc. Elas adquiriram muito mais força e vigor após o tempo que Marx viveu. Que bom, muitas coisas Marx não previu mesmo como iriam se desenrolar, serve que sua teoria é base para entender todas essas lutas.

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